Vou reunir os malditos numa festa.
Nada de certinhos.Nada de rosas.
Tragam-me os espinhos,
As pessoas doridas e dolorosas -
Únicas que tem o que dizer.
Nem importa que gritem que meu gasto é exagerado
Que, por certo, tem algo acobertado
Sob tão estranha proteção.
Só dos malditos que se desconfiam.
Dos que dizem não
Onde o sim é convenção
Que desatam sua fúria como um rio
Desobedecem para uma futura construção
Que nega a realidade bem arrumada.
Venham negrada, venham peões,
Correi prostitutas, loucos, punguistas,
Sonhadores, promíscuos, artistas...
Acorrei marginais, drogados, salafrários, ladrões...!
Mendigos , bastante mendigos.
Famintos, bastante famintos.
Malditos, bastante malditos.
Que arrassem, que maldigam, estraguem, estraçalhem
A festa é isto:
O podre mais profundo da sociedade
Por um momento dançando a ilusão da vida.
Bêbados, sim Mas quem não é ébrio?
Loucos, sim. Mas quem não é louco?
Os que constroem bombas?
Os que que cuidam de dinheiro?
Os que correm atrás do poder?
Meus grandes malditos, vamos!
Façamos da nossa irrealidade
Nossa bandeira,
Criemos um carnaval sem quarta-feira,
Façamos uma revolução sem armas e sem sangue
Dançando, cruzando os braços,
Desrespeitando o normal
Diante da impotência geral dos comuns.
(Do livro Imagens da Incerteza).
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