Sunday, May 22, 2011

Eduardo Lizalde


Recuerdo que el amor era una blanda furia...

Eduardo Lizalde

"Lo he leído, pienso, lo imagino;
existió el amor en otro tiempo."
Será sin valor mi testimonio.

(Rubén Bonifaz Nuño)

Recuerdo que el amor era una blanda furia
no expresable en palabras.
Y mismamente recuerdo
que el amor era una fiera lentísima:
mordía con sus colmillos de azúcar
y endulzaba el muñón al desprender el brazo.
Eso sí lo recuerdo.
Rey de las fieras,
jauría de flores carnívoras, ramo de tigres
era el amor, según recuerdo.
Recuerdo bien que los perros
se asustaban de verme,
que se erizaban de amor todas las perras
de sólo otear la aureola, oler el brillo de mi amor
—como si lo estuviera viendo—.

Lo recuerdo casi de memoria:
los muebles de madera
florecían al roce de mi mano,
me seguían como falderos
grandes y magros ríos,
y los árboles —aun no siendo frutales—
daban por dentro resentidos frutos amargos.
Recuerdo muy bien todo eso, amada,
ahora que las abejas
se derrumban a mi alrededor
con el buche cargado de excremento.

De: El tigre en la casa

Recordo que o amor era uma fúria branda ...

"Eu leio, penso, o imagino;
existia o amor em outro tempo.
Será sem valor meu testemunho”.

Rubén Bonifaz Nuño


Recordo que o amor era uma fúria branda
não expressável em palavras.
E a mesmamente recordo
que o amor era uma fera lentíssima:
mordia com seus dentes de açúcar
e adoçava o coto ao despedaçar o braço.
Isto eu recordo.
Rei das feras,
maço de flores carnívoras, buquê de tigre
era amor, se bem me recordo.
Recordo bem que os cães
se assustavam ao me ver,
que se eriçavam de amor todas as cadelas
ao verificar apenas a aura, o cheiro, o brilho do meu amor
-Como se o estivesse vendo.

Eu me recordo quase de memória:
os móveis de madeira
floresciam ao roçar de minha mão,
Me seguiam como crianças de colo
os magros e grandes rios,
e as árvores, mesmo não sendo de frutos,
davam ressentidos frutos amargos por dentro.
Recordo bem de tudo isto, amada,
agora que as abelhas
caem em torno de mim
com a barriga cheia de excrementos.

1 comment:

boudoir da maquiagem said...

Maravilhoso! Eu já adorava Lizalde antes de estudar espanhol, agora simplesmente o acho perfeito.. Muito obrigada por postar estes poemas e esta tradução tão bem elaborada!