Monday, April 15, 2024

Gonzálo Millan, pois.

 


LATA

Gonzálo Millan

Ya no te bastan mis ojos

para corroborar tu belleza.

Buscas en las calles

ajenos espejos, otros ojos,

la cabeza de un clavo

es una luna diminuta.

Contemplas una lata

de sardinas con agua de lluvia.

LATA

Já não te bastam meus olhos

para corroborar tua beleza.

Buscas nas ruas

espelhos alheios, outros olhos,

a cabeça de um prego

é uma lua diminuta.

Contemplas uma lata

de sardinha com água de chuva.

Ilustração: iStock.

 

Monday, April 08, 2024

Sem Perdões

Eu não te perdoo                                 

Por me amares mais

Do que te posso amar

Nem me pedires mais

Do que eu posso dar.

Nem por meus silêncios

Ou falta de desculpas

Não posso me perdoar

Por minhas culpas

Nem por ser assim

Tão múltiplo e incoerente

Que sigo em frente

Sem nenhuma ilusão

Que não a deste amor

Que não perdoa

Nem quer perdoar

E que contra toda a razão

Continua a amar

Quando nem amar consegue

E deixa tudo no ar...

Enquanto a vida segue

Como um mero exercício de respirar!

Ilustração: iStock. 

Sunday, April 07, 2024

Sem Palavras

 


Eu queria te dizer

tantas coisas lindas.

Ser mais poeta 

que os maiores poetas

para dizer que ninguém, 

além de mim, 

há de te amar tanto assim.

Quando olhei, porém, 

nos teus belos olhos

fiquei sem palavras 

e só consegui chorar 

o tanto que te amava.

Ilustração: Stockphoto. 

Wednesday, April 03, 2024

Um poema de Henrietta Cordelia Ray

 


MY EASTER DOVE

Henrietta Cordelia Ray

There came a dove, an Easter dove,

       When morning stars grew dim;

It fluttered round my lattice bars,

       To chant a matin hymn.

 

It brought a lily in its beak,

       Aglow with dewy sheen;

I caught the strain, the incense breathed,

       And uttered praise between.

 

It brought a shrine of holy thoughts

       To calm my soul that day;

I caught the meaning of the note,

       Why did it fly away?

 

Come peaceful dove, sweet Easter dove!

       Above earth’s storm and strife,

Sing of the joy of Easter-tide,

       Of light and hope and life.

MINHA POMBA DA PÁSCOA

Lá veio uma pomba, uma pomba da Páscoa,

        Quando as estrelas da manhã escureceram;

flutuando em volta das minhas barras de treliça,

        Para cantar um hino matinal.

 

Trouxe um lírio no bico,

        Brilhante com um orvalhado brilho;

Eu peguei a tensão, o incenso respirou,

        E pronunciou elogios entre eles.

 

Trouxe um santuário de pensamentos sagrados

        Para acalmar minha alma naquele dia;

Eu entendi o significado da nota,

        Por que ele voou para longe?

 

Venha pacífica pomba, doce pomba da Páscoa!

        Acima da tempestade e do conflito da terra,

Cante a alegria da maré pascal,

        De luz, esperança e vida.

Ilustração: Tia Paula.

Tuesday, April 02, 2024

E, mais uma vez, Antonio Carvajal

[«No mires hacia atrás: ya nada queda…»]

Antonio Carvajal

No mires hacia atrás: ya nada queda:
la casa, el sitio, la ciudad, el soto,
escombro, hueco, ripio, humo remoto
o acaso turbia y leve polvareda.

Mira adelante, aunque te retroceda
el ánimo: el futuro no está roto:
si oscuro, intacto; fértil, porque ignoto.
Quiera tu voluntad, tu ánimo pueda.

Pero si te has vendido a las pasadas
sombras; si esclavitud tasó tu precio
en dos o tres monedas sin sonido,

teme a la libertad, pues no eres recio;
teme a tus fuerzas, pues están gastadas;
teme al futuro, pues será tu olvido.

["Não olhe para trás: já nada resta..."]

Não olhe para trás: já nada resta:

a casa, o lugar, a cidade, o mato,

escombros, buraco, ripa, fumaça remota

ou talvez nublado e com poeira leve.

 

Olha em frente, ainda que retroceda

o ânimo: o futuro não está perdido:

se escuro, intacto; fértil, porque ignorado.

Que sua vontade, seu espírito possa.

 

Porém se te hás vendido aos passados

tons; se a escravidão taxou teu preço

sem som, em duas ou três moedas,

 

teme a liberdade, pois não és forte;

teme as tsua forças, pois estão gastas;

teme o futuro que será teu esquecimento.

Ilustração: Wallpapers Cristãos.

 


Monday, April 01, 2024

CARTOLA


Só uma vez te vi cantar, poeta.

Só uma vez.

E a tua voz,

que ainda hoje lembra

canções, que não mais 

                                            ouves,

ecoa, clara e cristalina, 

no respeitoso

silêncio do teatro,

que sabia estar ali a poesia

no seu canto de amor.


Só uma vez te vi cantar, poeta.

Só uma vez.

E os aplausos

que me pareceram, então, 

                             uma consagração

sinto, agora, como foram poucos 

diante da grandeza 

de um gênio da canção!

Ilustração: Enciclopédia Itau Cultural. 

Sunday, March 31, 2024

Mais uma poesia de Vicente Luiz Mora

 


EL RELOJ CIEGO  

Vicente Luiz Mora

Conforman mi cuerpo

37 billones

de células.

 

Cada una de ellas,

cada uno de los días,

hace lo que debe.

Ejecutan su programación

y cumplen sus funciones

sin dudar, como un reloj.

 

La suma de esas células,

es decir, yo,

no ha sabido qué hacer

ni qué pensar ni uno solo

de esos días.

 

Soy la incertidumbre

de mi propio sistema.

O RELÓGIO CEGO

Conformam o meu corpo

37 bilhões

de células.

 

Cada uma delas,

cada um dos dias,

faz o que deve.

Executam sua programação

e cumprem suas funções

sem hesitação, como um relógio.

 

A soma dessas células,

quer dizer eu,

não sabe o que fazer

nem o que pensar um único

desses dias.

 

Sou a incerteza

do meu próprio sistema.

Ilustração; HSM Manegement.