QUISE
Pablo Romero
Un poema limpio
sin historia
y sin rastro sin mi
deixis gritando
esto soy
sin mis
máscaras
de jugar a escapar (sin
un yo)
sin Pushkin y sin
Aristóteles:
un poema sin pretensión (sin rima)
sin la huella de la poesía argentina
haciendo peso
en su
escritura
sin el peso de la vanguardia
desafiándolo a renovarse
sin el peso del barroco
condenándolo a desaparecer.
(Quise) un poema que no represente
a nadie
(ni siquiera a mí)
incapaz de ser bandera
y enarbolarse en las ruinas
de alguna ideología.
Un poema que diga acá estoy
y nada importa
y no hay
palabras
porque no alcanzan.
Un poema que diga escribo porque
sí
porque no sé hacer otra cosa:
cuando hablé del mar realmente
hablaba de las aguas y no de Freud
ni del inconsciente
cuando dije camino hablé
del cansancio
y no de la memoria ni el pasado.
Quise un poema
sin unidad de acción
sin
epifanía:
quise verlo medio-lleno
QUERIA
Um poema limpo sem
história
e sem deixar rastros sem que
me dêixis gritando
este sou eu sem
minhas máscaras
de brincar de fugir (sem
um eu)
sem Pushkin e sem
Aristóteles:
um poema sem pretensão
(sem rima)
sem o traço da poesia
argentina
ganhando peso em sua
escrita
sem o peso da vanguarda
desafiando-o a se renovar
sem o peso do barroco
condenando-o a
desaparecer.
(queria) um poema que não
representasse
ninguém (nem mesmo a mim)
incapaz de ser uma
bandeira
e enrolar-se acima das
ruínas
de alguma ideologia.
Um poema que diz aqui
estou
e nada importa e não há
palavras
porque não alcançam.
Um poema que diz escrevo
porque sim
porque não sei fazer mais
nada:
quando falava sobre o mar
realmente falava sobre
águas e não de Freud
nem do inconsciente
quando eu disse caminho
falei de cansaço
e não da memória nem do
passado.
Eu queria um poema sem
unidade de ação
sem epifania: queria vê-lo
meio pleno.
Ilustração: Jornal da
Cidade On-Line.