Friday, December 08, 2006

COM VOCÊS JORGE CARRASCO....

Pelo menos os poucos e bons amigos que tenho sabem que estou mais para "traidor" do que para tradutor. Se traduzo o faço mais pelo deleite, pelo gosto, por amar os textos que traduzo do que pela capacidade para tal. Inclusive por, em geral, não ter a determinação e o gosto que fazem, por exemplo, de minha querida amiga Lyla Rayol uma mestra na arte de traduzir. Ela persegue cada sentido, cada palavra. Sou a percepção, a poesia apenas. Algumas vezes traio o autor pela beleza de uma idéia. Não é o caso de Carrasco. Gostei muito de sua poesia e desta em especial. Fiquei empolgado e traduzi num sopro. Depois li e corrigi algumas "falhas", daí republicá-la com o devido carinho e respeito que o poeta e a poesia merecem. Ah! Esqueci de dizer também insisto em traduzir por não existir pessoas que traduzam as belas poesias que nos roedeiam nesta amada e esquecida América Latina. A poesia de Carrasco, porém vale mais do que todas as explicações:


TODOS HABLAN

Jorge Carrasco



Todos hablan de lo que tocan sus manos.
El portero habla de la suciedad de los pupitres.
El taxista habla de números de lejanas calles.
El padre habla de los hijos, sólo de los hijos.

El sol habla de las malezas de mi vereda.

Cada uno es esclavo de las cosas que trae al mundo.
La hembras arrastran las cadenas
de sus milenarios cachorros.
La tierra muele las piedras de sus órganos
para llamar a las raíces de todos los árboles.

El gobernante es esclavo de los hambrientos
que incendian las calles.

Y cada uno es rey de lo que sueña.
El portero que escribe en un pizarrón imaginario.
El taxista que habla como propietario de andenes.
El padre que quiere hablar de sus recuerdos,
sólo de sus recuerdos.

El sol que ve su danza en la copa
de los árboles de mi alma.

Y cada uno es dios de las cosas
que nunca va a traer al mundo.


TODOS FALAM

Todos falam do que suas mãos tocam
O porteiro fala da sujeira das maçanetas.
O taxista fala dos números de ruas distantes.
O pai fala dos filhos, só dos filhos.

O sol fala das ervas daninhas de minha vereda.

Cada um é escravo das coisas que traz ao mundo.
As fêmeas arrastam as correntes
de seus cachorros milenares.
A terra mói as pedras de seus órgãos
Para chamar as raízes de todas as árvores.

O governante é escravo dos famintos
Que incendeiam as ruas.

E cada é rei de seu sonho.
O porteiro que escreve num quadro imaginário.
O taxista que fala como proprietário de empresas.
O pai que ama falar de suas memórias,
Somente de suas memórias.

O sol que dança na copa das árvores
De minha alma.

E cada um é o deus das coisas
Que nunca vão trazer ao mundo.

1 comment:

Lia Noronha &Silvio Spersivo said...

Sílvio: realmente...o carrasco consegue decifrar muito bem a alma humana..e vc traduz maravilhosamente essa proeza!