Thursday, January 30, 2025

O ENGANO GERAL

Pensaram que o golpe era dele. 

E até ele mesmo pensava 

que estava dando o golpe. 

Pobre homem! 

Quando acordou descobriu 

que o golpe foi dela!!! 

Ilustração: Servo Livre. 

Uma poesia de Richard Butler Glaenzer

 


STAR-MAGIC

Richard Butler Glaenzer

Though your beauty be a flower
Of unimagined loveliness,
It cannot lure me tonight;
For I am all spirit.

As in the billowy oleander,
Full-bloomed,
Each blossom is all but lost
In the next-
One flame in a glow
Of green-veined rhodonite;
So is heaven a crystal magnificence
Of stars
Powdered lightly with blue.

For this one night
My spirit has turned honey-moth
And has made of the stars
Its flowers.

So all uncountable are the stars
That heaven shimmers as a web,
Bursting with light
From beyond,
A light exquisite,
Immeasurable!

For this one night
My spirit has dared, and been caught
In the web of the stars.
Though your beauty were a net
Of unimagined power,
It could not hold me tonight;
For I am all spirit.

MAGIA DAS ESTRELAS

Embora sua beleza seja uma flor

De beleza inimaginável,

Ela não pode me atrair esta noite;

Pois eu sou todo espírito.

 

Como na espirradeira ondulada,

Totalmente florida,

Cada flor está quase perdida

Na próxima-

Uma chama num brilho

De rodonita com veios verdes;

Assim é o céu uma magnificência cristalina

De estrelas

Ligeiramente iluminado com azul.

 

Por esta noite

Meu espírito se tornou uma mariposa

E fez das estrelas

Suas flores.

 

Tão incontáveis ​​são as estrelas

Que o céu brilha como uma teia,

Explodindo com luz

Do além,

Uma luz requintada,

Imensurável!

 

Por esta noite

Meu espírito ousou e foi pego

Na teia das estrelas.

Embora sua beleza fosse uma rede

De poder inimaginável,

Ela não poderia me segurar esta noite;

Pois eu sou todo espírito.

Ilustração: Space Today.

Outra poesia de Beatriz Fernández de Sevilla

 


DESCONCIERTO

Beatriz Fernández de Sevilla

He leído muchos libros y el amor del que hablaban

no se parece a este.

Aún no entiendo muy bien que la poesía

no tenga entre los versos de los grandes algo que sea muy nuestro

y sin embargo cuánto quema el sueño

sin ti a mi lado

qué paladar ordena mi saliva

por qué no están mis manos en tu pecho.

DESCONCERTO

Li muitos livros e o amor do qual falavam

não se parece com este.

Ainda não entendo muito bem que a poesia

não tenha entre os versos dos grandes algo que seja muito

nosso

e, sem embargo, quando o sono chega

sem ti ao meu lado

que paladar ordena minha saliva

porque não estão minhas mãos no teu seio.

Ilustração: Hora da Soneca. 

Tuesday, January 28, 2025

Ela me Leva

 


Mesmo sendo o mesmo,
o que se repete,
agora, no ano novo,
Serei outro.

Outras coisas me aguardam
E até diria, com ousadia,
Que sinto que algo de mim se sacia
Mesmo quando apenas
É recomendável
Que mude, e nem sei como.
Não para ser perfeito,
Mas, para ter algum jeito.

Talvez seja ilusão,
Preâmbulo do explodir,
Como fruto do que não foi feito.
Há o otimismo que mantenho
A certeza de que, numa esquina do tempo,
A vida há de me fazer feliz-
Ainda que tarde

E dessa forma
(como se me enganar fosse uma arte]
Conservo,
Como uma lâmpada maravilhosa,
A chama da ilusão.

Só a fé e a poesia
Podem salvar um homem.

E sigo ainda contente
Quando o fato de ser o mesmo
Enlouqueceria outra mente.
Embora o ano seja novo,
E a alegria um fator ausente,
Levo a vida
E a vida vai me levando.

Ilustração: Discover Universal. 

Uma poesia de Beatriz Fernández de Sevilla

 


LA ISLA DE GLORIA

Beatriz Fernández de Sevilla

He creado una isla,

una isla sola en medio de un Atlántico propio

donde naufrago intencionadamente

los días de laxitud tras cada guerra.

He creado una isla

de apacible desorden, de rebeldía controlada

donde espero las tormentas que me llegan

y los vientos del norte que me extrañan.

 

A veces sueño que buscas mi isla

palpando en silencio el dique de los puertos.

De océano en océano.

De playa a playa solitaria y quieta.

A ILHA DA GLÓRIA

Eu criei uma ilha,

uma ilha sozinha no meio de um Atlântico próprio

onde naufrago intencionalmente

os dias de frouxidão depois de cada guerra.

Eu criei uma ilha

de aprazível desordem, de rebelião controlada

onde espero as tempestades que me chegam

e os ventos do norte que me estranham.

 

Às vezes sonho que buscas minha ilha

Apalpando em silêncio o dique dos portos.

De oceano a oceano.

Da praia a praia solitária e tranquila.

Ilustração: Tripadvisor.

Monday, January 27, 2025

O Meu Amor

 



É melhor deixar

Que o tempo explique tudo.

De nada adiantam as palavras
Sem teus braços, sem teu corpo, sem tua língua
Que é, inexplicavelmente, doce.

A flor do bem e do mal
Pode ter o mesmo nome
E só a explosão do prazer
Justificaria o palavrão
Com que pretendo te agraciar.

Ainda que ferir seja a maior forma de amar.

Ilustração: Phoneky.

Uma poesia de Jason Allen-Paisant

 


AND YOU . . .

Jason Allen-Paisant

a walk in a midwinter ochre wood

to get some england sun

as it steals away-

a little poodle runs to show you love;

you like the feel of the animal’s body

on your leg; it’s something

of an acceptance so you smile

and are not the least bothered; you even hope

it’ll jump, though the lady yells

no jumping Sam! no jumping!

and when she adds ‘you know he

just loves EVERYbody!’ why should you

suddenly feel tears coming?-

it’s just that EVERYbody; how do you

explain this? there’s nobody to explain

it to: why she needed to take away

from you this one feeling of special?

how could she know it was the most

human moment of your day-

the most human moment in weeks?

E VOCÊ…

caminhar em uma floresta ocre de inverno

para pegar um pouco de sol da Inglaterra

que se esgueira como sempre-

um pequeno poodle corre para mostrar seu amor;

você gosta de sentir o corpo do animal

na sua perna; é alguma coisa

da aceitação, assim como você sorri

e não se incomoda nem um pouco; você até espera

que ele pule, embora a moça grite

não pule Sam! sem pulos!

e quando ela adiciona "você sabe que ele

simplesmente ama TODO MUNDO!' por que você deveria

de repente sentir lágrimas chegando?-

é justo que TODO MUNDO; como você

explica isto? não há ninguém para explicar: por que ela precisava tirar

de você este sentimento especial?

como ela poderia saber que era o momento mais

humano do seu dia-

o momento mais humano em semanas?

Ilustração: Porto Filhote.

Sunday, January 26, 2025

Sempre na Superfície

 


Mergulhar não! É na superfície
Que as coisas estão. E o fundo
É cheio de pedras, sentidos,
sentimentos traiçoeiros

Que se escondem na profundeza
Abissal. O sofrimento, a dor,
Sempre arrasta para baixo, afunda,
mais funda

Do que deveria ser, sempre propensa
A mais doer, a ser mais imensa,
mesmo em mim,
que sou tão covarde.

Que ninguém ouça este segredo
Frágil como louça: do mar
só quero
A brisa, a suavidade, o mistério,
O murmúrio como música
No momento em que a praia
sirva
Como cama ideal de uma noite lasciva!

Ilustração: Pixabay.

Um poeminha de Amy Lowell

 


A LOVER 

Amy Lowell

If I could catch the green lantern of the firefly I could see to write you a letter.

A UM AMANTE 

Se eu pudesse pegar o verde da lanterna do vaga-lume, eu poderia olhar para escrever uma carta para você.

 


Saturday, January 25, 2025

Retraduzindo Rafael Courtoisie

 


FOSA DE CHARLES ATLAS

 

Rafael Courtoisie

 

Pienso en el hierro. Es un oscuro pensamiento
que vuelve, intermitente, como un mar duro.
A veces, las cortinas dejan pasar un hilo
se descubre la luz estallando en los objetos
frente a una idea que tiene esa certeza
disuelta.

 

¿Cómo será el hierro dentro del hierro?

 

Pienso en su alma
llena de nudos
pienso en una constelación musculosa,
en un tejido
de misterio donde cada fibra me recuerda
lo que soy:
mi fragilidad, mi blandura, mi invencible
debilidad.

 

No tengo alma
como ese centro, no tengo el alma del hierro
ni oscuridad que se parezca
ni nudo
ventral que simule, por un momento, la solidez
el tiempo endurecido de su médula.

 

Frente a esa profundidad
sólo puedo callar.

 

Huelo una hoja de cedrón
recién arrancada
de la mañana
de la vida

 

fresca y ya
pudriéndose

 

dañada
por el sol de las cosas.

 

Huelo esa hoja
y sé que está
sostenida
no por mi mano, por el hierro
invisible

 

del aroma.

 

Todo es más fuerte que yo.

A FOSSA DE CHARLES ATLAS

Penso em ferro. É um pensamento escuro

que volta, intermitente, como um mar duro.

Às vezes, as cortinas deixam passar um fio

que descobre a luz explodindo nos objetos

frente a uma ideia que tem essa certeza

dissolvida.

 

Como será o ferro dentro do ferro?

 

Penso na sua alma

cheia de nós

Penso em uma constelação muscular,

num tecido

de mistério onde cada fibra me recorda

o que sou:

minha fragilidade, minha bondade, minha invencível

debilidade.

 

Não tenho alma

como este centro, não tenho a alma de ferro

nem a escuridão que pareça

sem nó

dorsal que simule, por um momento, a solidez

o tempo endurecido de sua medula.

 

Frente à esta profundidade

só posso calar.

 

Sinto uma folha de verbena de limão

recém arrancada

da manhã

da vida

fresca e já

apodrecendo

 

danificada

pelo sol das coisas.

 

Cheiro esta folha

e sei que está

sustentada

não por minha mão, pelo ferro

invisível

 

do aroma.

 

Tudo é mais forte do que eu.

Ilustração: Amazon.

Friday, January 24, 2025

ADIAMENTO

 


Não deixe para amanhã o que podias

fazer hoje

(E devias ter começado ontem).

 

E que, talvez, não comeces amanhã.

 

Esta preguiça que te tem torturado

É um sintoma perceptível;

que não te importas com o tempo,

logo com o que não poderias deixar de resolver.

 

Sabes: não fez ontem, hoje, nem fará amanhã 

o que tu podias ter feito.

Procrastinar sempre é teu pior defeito.

Ilustração: Qualiteam.

Uma poesia de Marci Calabretta Cancio-Bello

 


THE HOUSEGUEST   

Marci Calabretta Cancio-Bello

Forgiveness was sitting in your kitchen when you got home, and now rests elbows on the table to watch you reach for a knife. You scrape the papery skin from a ginger root and slice it into thin coins. You think too hard about which mugs to pull from your cupboard: you might reveal too much; should you offer the one with the uncomfortable handle? Water boils. You divide the ginger evenly into both cups and pour. Spoonful of honey. You stir slowly, eyes down as though you might be able to forget. You stir too long. Forgiveness coughs politely, so you turn, place both mugs on the table, sit. Forgiveness leans forward. You lean back. You have forgotten what it is like to live with someone who eats all your cut watermelon, picks clean the skeletal vine of red grapes, shakes water spots onto your bathroom mirror without wiping them away. What thresholds of welcome have you crossed and recrossed? Most mornings, you listen for the body to move through your house and out the door before leaving your bedroom. Most nights, you ghost around each other without speaking. But now, as the rain drizzles into gloaming, you settle into your chairs, inevitable, a cupful of hesitation finally beginning to loosen your tongues

O HÓSPEDE

O perdão estava sentado na sua cozinha quando você chegou em casa, e agora apoia os cotovelos na mesa para ver você alcançar uma faca. Você raspa a casca fina de uma raiz de gengibre e a corta em moedas finas. Você pensa duramente sobre quais canecas tirar do seu armário: você pode revelar demasiado; você deve oferecer uma que tem a alça desconfortável? A água ferve. Você divide o gengibre uniformemente em ambas as xícaras e despeja. Colher de mel. Você mexe lentamente, olhos baixos como se pudesse esquecer. Você mexe por longo tempo. O perdão tosse polidamente, então você se vira, coloca as duas canecas na mesa, senta. O perdão se inclina para a frente. Você se inclina para trás. Você se esqueceu de como é viver com alguém que come toda a sua melancia cortada, colhe as uvas vermelhas e limpa a videira esquelética, joga manchas de água no espelho do seu banheiro sem limpá-las. Quais limites de boas-vindas você cruzou e recruzar? Na maioria das manhãs, você escuta o corpo se mover pela casa e sair pela porta antes de sair do seu quarto. Na maioria das noites, vocês se escondem sem falar. Mas agora, enquanto a chuva cai no crepúsculo, vocês se acomodam em suas cadeiras, inevitável, uma xícara cheia de hesitação finalmente começar a soltura das suas línguas

Ilustração: ArchDaily Brasil.

Retalhos

 


Não esperarei mais por tua volta.

A porta está aberta, a fechadura destravada,

Mas as dores do passado estão mortas.

 

Nem sei se terei mais alegria

Na tua companhia. E se chegas serás uma incógnita

Depois de tantos dias de silêncio e esquecimento.

 

Serás, por acaso, a mesma nos carinhos e beijos?

Ou, pelos caminhos, na busca de esperança,

Em imaginários desejos e lábios outra se fez?

 

Nem sempre depois da tempestade a vida recompõe

O que as águas e os ventos destruíram. São fatos.

A passagem pode não ser visível e ser mortal.

 

Na realidade do viver se afoga a utopia

E o ponto na distância some, ou se agiganta,

Dependendo do olhar. Talvez não haja o que restaurar...

 

Talvez quando voltares se rasgue a fantasia,

Todo o passado, seja um mundo fictício; o amor, um vício.

Nosso romance, uma mera ilusão.

 

Não esperarei tua chegada... partido estou na partida.

(De "Àguas Passadas", Editora Per Se, 2013). 

Ilustração: Retalhos de Amor. 

Eis de volta Joaquín O. Gionuzzi

 


NO HAY NADIE

Joaquín O. Gionnuzzi

Celebro esta confusión al salir del sueño,
pálida escarcha en el vidrio,
cuando el calor interno, todavía,
elabora en mi cabeza un campo discontinuo
de lenguaje en preparación:
minutos antes
del agua fría y de mi entrada
al orden que juntará los fragmentos,
en cuanto suene el golpe
de la primera puerta en el edificio,
el grito del teléfono
y la radio anunciando una temperatura
de dos grados bajo cero en la ciudad
y, lo que es peor,
que se ha lanzado una llamada al espacio exterior
y nadie ha respondido todavía.

NÃO HÁ NINGUÉM  

Celebro esta confusão ao sair do sono,

geada pálida no vidro,

quando o calor interno, todavia,

elabora na minha cabeça um campo descontínuo

de linguagem em preparação:

minutos antes

de água fria e de minha entrada

à ordem que juntará os fragmentos,

enquanto soar o golpe

da primeira porta do edifício,

o grito do telefone

e o rádio anunciando uma temperatura

dois graus abaixo de zero na cidade

e, o que é pior,

que se há lançado uma chamada para o espaço sideral

e ninguém havia respondido, todavia.

Ilustração: Hydra Ficções.

Thursday, January 23, 2025

O Rio de Juan Bonilla

 

 

EL RÍO

Juan Bonilla

Si pudiera elegir, sería un río.

Siempre el mismo pero sin ser el mismo nunca.

Un río hundiéndose como daga en el mar

en el exacto instante repetido

en el que también nace sin testigo alguno

entre las grietas de una peña y se desliza como lágrima.

 

Y a cada instante ser también

hilo de agua solitario entre árboles pacientes

que levanta un rumor de agua nerviosa

o se ensancha orgulloso al paso de ciudades

por reflejar torres del oro y vanas catedrales,

o da de beber al ganado en un recodo

o se inventa piscinas para que se bañen los chavales.

 

No, nuestras vidas no son ríos:

ellos siguen naciendo cuando mueren,

siguen corriendo alegres, violentos,

o se remansan en los valles.

Si pudiera elegir sería un río, cualquier río.

Algo que siempre está naciendo,

algo que está pasando siempre,

algo que muere en cada instante.

O RIO

Se eu pudesse escolher, seria um rio.

Sempre o mesmo, porém, sem ser o mesmo nunca.

Um rio afundando como uma adaga no mar

no exato instante repetido

em que também nasce sem testemunha alguma

entre as brechas de uma pedra e desliza como uma lágrima.

 

E a cada instante ser também

fio de água solitário entre árvores pacientes

que levanta um rumor de água nervosa

ou alarga-se orgulhoso à passagem das cidades

por refletir torres de ouro e catedrais vãs,

ou dê de beber ao gado em uma curva

ou invente piscinas para as crianças se banharem.

 

Não, nossas vidas não são rios:

eles seguem nascendo quando morrem,

seguem correndo alegres, violentos,

ou descansam nos vales.

Se pudesse escolher, seria um rio, qualquer rio.

Algo que sempre está nascendo,

algo que está passando sempre,

algo que morre em cada instante.

Ilustração: Diário do Rio.

MOSQUINHA NO VINHO

 

 

Ah! Dona mosquinha,

sua mosca tosca,

vem, logo agora,

em plena a pandemia

abusar assim

de minha companhia?

 

Vem com seu zumbido

nesta infausta hora

me importunar

como se soubesse

que sem inseticida

não posso te pegar.

 

Tento te matar,

mas, da raquete zomba, 

do pano, da toalha,

da mão que em vão tomba

sem meios de alcançar

esta criaturinha,

que tão rapidinha

consegue escapar.

 

Mosca brincalhona

que faz a maior zona

sem em nada alterar

seu voo regular.

Como suportar

esta praga urbana

que, por zombaria,

talvez ironia,

cai devagarinho

e se afoga de mansinho,   

sem a menor graça,

na última taça

de meu melhor vinho?

Ilustração: Tudo Gostoso.

Uma poesia de Kevin Young

 


 

   MANTLE

   Kevin Young

The dead do
     what they want
which is nothing—

 

sit there, mantled,
     or made real
by photographs

 

in silver frames,
     or less real
by our many ministrations.

 

Dusting. Bleach. The world
     swept, ordered,
seemingly unending.

 

The dead, listless,
     lazy, grow tired
& turn off the TV—

 

or like a father passed
     out in an easy chair
during the evening news

 

      what’s watched now
does the watching.

MANTO

Os mortos fazem

o que querem

que é nada-

 

sentam-se ali, envoltos,

ou tornados reais

nas fotografias

 

em molduras de prata,

ou menos reais

nos nossos muitos cuidados.

 

Limpando. Alvejando. O mundo

varrido, ordenado,

aparentemente infindável.

 

Os mortos, apáticos,

preguiçosos, cansam-se

e desligam a TV-

 

ou como um pai desmaiado

numa poltrona

durante o noticiário noturno

 

o que é assistido agora

faz a observação.

Ilustração: Clube dos Poupadores.