Pensaram que o golpe era dele.
E até ele mesmo pensava
que estava dando o golpe.
Pobre homem!
Quando acordou descobriu
que o golpe foi dela!!!
Ilustração: Servo Livre.
Pensaram que o golpe era dele.
E até ele mesmo pensava
que estava dando o golpe.
Pobre homem!
Quando acordou descobriu
que o golpe foi dela!!!
Ilustração: Servo Livre.
STAR-MAGIC
Richard Butler Glaenzer
Though your beauty
be a flower
Of unimagined loveliness,
It cannot lure me tonight;
For I am all spirit.
As in the billowy
oleander,
Full-bloomed,
Each blossom is all but lost
In the next-
One flame in a glow
Of green-veined rhodonite;
So is heaven a crystal magnificence
Of stars
Powdered lightly with blue.
For this one night
My spirit has turned honey-moth
And has made of the stars
Its flowers.
So all uncountable
are the stars
That heaven shimmers as a web,
Bursting with light
From beyond,
A light exquisite,
Immeasurable!
For this one night
My spirit has dared, and been caught
In the web of the stars.
Though your beauty were a net
Of unimagined power,
It could not hold me tonight;
For I am all spirit.
MAGIA DAS ESTRELAS
Embora sua beleza seja
uma flor
De beleza inimaginável,
Ela não pode me atrair
esta noite;
Pois eu sou todo
espírito.
Como na espirradeira
ondulada,
Totalmente florida,
Cada flor está quase
perdida
Na próxima-
Uma chama num brilho
De rodonita com veios
verdes;
Assim é o céu uma
magnificência cristalina
De estrelas
Ligeiramente iluminado
com azul.
Por esta noite
Meu espírito se tornou
uma mariposa
E fez das estrelas
Suas flores.
Tão incontáveis são as
estrelas
Que o céu brilha como uma
teia,
Explodindo com luz
Do além,
Uma luz requintada,
Imensurável!
Por esta noite
Meu espírito ousou e foi
pego
Na teia das estrelas.
Embora sua beleza fosse
uma rede
De poder inimaginável,
Ela não poderia me
segurar esta noite;
Pois eu sou todo espírito.
Ilustração: Space Today.
DESCONCIERTO
Beatriz Fernández de Sevilla
He leído muchos libros y
el amor del que hablaban
no se parece a este.
Aún no entiendo muy bien
que la poesía
no tenga entre los versos
de los grandes algo que sea muy nuestro
y sin embargo cuánto
quema el sueño
sin ti a mi lado
qué paladar ordena mi
saliva
por qué no están mis
manos en tu pecho.
DESCONCERTO
Li muitos livros e o amor
do qual falavam
não se parece com este.
Ainda não entendo muito
bem que a poesia
não tenha entre os versos
dos grandes algo que seja muito
nosso
e, sem embargo, quando o
sono chega
sem ti ao meu lado
que paladar ordena minha
saliva
porque não estão minhas
mãos no teu seio.
Ilustração: Hora da Soneca.
Mesmo sendo o mesmo,
o que se repete,
agora, no ano novo,
Serei outro.
Outras coisas me aguardam
E até diria, com ousadia,
Que sinto que algo de mim se sacia
Mesmo quando apenas
É recomendável
Que mude, e nem sei como.
Não para ser perfeito,
Mas, para ter algum jeito.
Talvez seja ilusão,
Preâmbulo do explodir,
Como fruto do que não foi feito.
Há o otimismo que mantenho
A certeza de que, numa esquina do tempo,
A vida há de me fazer feliz-
Ainda que tarde
E dessa forma
(como se me enganar fosse uma arte]
Conservo,
Como uma lâmpada maravilhosa,
A chama da ilusão.
Só a fé e a poesia
Podem salvar um homem.
E sigo ainda contente
Quando o fato de ser o mesmo
Enlouqueceria outra mente.
Embora o ano seja novo,
E a alegria um fator ausente,
Levo a vida
E a vida vai me levando.
Ilustração: Discover Universal.
LA ISLA DE GLORIA
Beatriz Fernández de Sevilla
He creado
una isla,
una isla
sola en medio de un Atlántico propio
donde
naufrago intencionadamente
los días
de laxitud tras cada guerra.
He creado
una isla
de
apacible desorden, de rebeldía controlada
donde
espero las tormentas que me llegan
y los
vientos del norte que me extrañan.
A veces
sueño que buscas mi isla
palpando
en silencio el dique de los puertos.
De océano
en océano.
De playa
a playa solitaria y quieta.
A ILHA DA GLÓRIA
Eu criei uma ilha,
uma ilha sozinha no meio de um Atlântico
próprio
onde naufrago intencionalmente
os dias de frouxidão depois de cada
guerra.
Eu criei uma ilha
de aprazível desordem, de rebelião
controlada
onde espero as tempestades que me chegam
e os ventos do norte que me estranham.
Às vezes sonho que buscas minha ilha
Apalpando em silêncio o dique dos portos.
De oceano a oceano.
Da praia a praia solitária e tranquila.
Ilustração: Tripadvisor.
Que o tempo explique tudo.
De nada adiantam as palavras
Sem teus braços, sem teu corpo, sem tua língua
Que é, inexplicavelmente, doce.
A flor do bem e do mal
Pode ter o mesmo nome
E só a explosão do prazer
Justificaria o palavrão
Com que pretendo te agraciar.
Ainda que ferir seja a maior forma de amar.
Ilustração: Phoneky.
AND YOU . . .
Jason
Allen-Paisant
a walk in a midwinter ochre wood
to get some england sun
as it steals away-
a little poodle runs to show you love;
you like the feel of the animal’s body
on your leg; it’s something
of an acceptance so you smile
and are not the least bothered; you even hope
it’ll jump, though the lady yells
no jumping Sam! no jumping!
and when she adds ‘you know he
just loves EVERYbody!’ why should you
suddenly feel tears coming?-
it’s just that EVERYbody; how do you
explain this? there’s nobody to explain
it to: why she needed to take away
from you this one feeling of special?
how could she know it was the most
human moment of your day-
the most human moment in weeks?
E VOCÊ…
caminhar em uma floresta
ocre de inverno
para pegar um pouco de
sol da Inglaterra
que se esgueira como sempre-
um pequeno poodle corre
para mostrar seu amor;
você gosta de sentir o
corpo do animal
na sua perna; é alguma
coisa
da aceitação, assim como
você sorri
e não se incomoda nem um
pouco; você até espera
que ele pule, embora a
moça grite
não pule Sam! sem pulos!
e quando ela adiciona
"você sabe que ele
simplesmente ama TODO
MUNDO!' por que você deveria
de repente sentir
lágrimas chegando?-
é justo que TODO MUNDO;
como você
explica isto? não há
ninguém para explicar: por que ela precisava tirar
de você este sentimento
especial?
como ela poderia saber
que era o momento mais
humano do seu dia-
o momento mais humano em
semanas?
Ilustração: Porto Filhote.
Mergulhar não! É na
superfície
Que as coisas estão. E o fundo
É cheio de pedras, sentidos,
sentimentos traiçoeiros
Que se escondem na profundeza
Abissal. O sofrimento, a dor,
Sempre arrasta para baixo, afunda,
mais funda
Do que deveria ser, sempre propensa
A mais doer, a ser mais imensa,
mesmo em mim,
que sou tão covarde.
Que ninguém ouça este segredo
Frágil como louça: do mar
só quero
A brisa, a suavidade, o mistério,
O murmúrio como música
No momento em que a praia
sirva
Como cama ideal de uma noite lasciva!
Ilustração: Pixabay.
A LOVER
Amy Lowell
If I could catch the green lantern of the firefly I
could see to write you a letter.
A UM AMANTE
Se eu pudesse pegar o
verde da lanterna do vaga-lume, eu poderia olhar para escrever uma carta para
você.
FOSA DE CHARLES ATLAS
Rafael Courtoisie
Pienso en el hierro. Es un oscuro
pensamiento
que vuelve, intermitente, como un mar duro.
A veces, las cortinas dejan pasar un hilo
se descubre la luz estallando en los objetos
frente a una idea que tiene esa certeza
disuelta.
¿Cómo será el hierro dentro del hierro?
Pienso en su alma
llena de nudos
pienso en una constelación musculosa,
en un tejido
de misterio donde cada fibra me recuerda
lo que soy:
mi fragilidad, mi blandura, mi invencible
debilidad.
No tengo alma
como ese centro, no tengo el alma del hierro
ni oscuridad que se parezca
ni nudo
ventral que simule, por un momento, la solidez
el tiempo endurecido de su médula.
Frente a esa profundidad
sólo puedo callar.
Huelo una hoja de cedrón
recién arrancada
de la mañana
de la vida
fresca y ya
pudriéndose
dañada
por el sol de las cosas.
Huelo esa hoja
y sé que está
sostenida
no por mi mano, por el hierro
invisible
del aroma.
Todo es más fuerte que yo.
A
FOSSA DE CHARLES ATLAS
Penso em ferro. É um
pensamento escuro
que volta, intermitente,
como um mar duro.
Às vezes, as cortinas
deixam passar um fio
que descobre a luz
explodindo nos objetos
frente a uma ideia que
tem essa certeza
dissolvida.
Como será o ferro dentro
do ferro?
Penso na sua alma
cheia de nós
Penso em uma constelação
muscular,
num tecido
de mistério onde cada
fibra me recorda
o que sou:
minha fragilidade, minha
bondade, minha invencível
debilidade.
Não tenho alma
como este centro, não
tenho a alma de ferro
nem a escuridão que pareça
sem nó
dorsal que simule, por um
momento, a solidez
o tempo endurecido de sua
medula.
Frente à esta
profundidade
só posso calar.
Sinto uma folha de
verbena de limão
recém arrancada
da manhã
da vida
fresca e já
apodrecendo
danificada
pelo sol das coisas.
Cheiro esta folha
e sei que está
sustentada
não por minha mão, pelo
ferro
invisível
do aroma.
Tudo é mais forte do que
eu.
Ilustração: Amazon.
Não deixe para amanhã o que podias
fazer hoje
(E devias ter começado ontem).
E que, talvez, não comeces amanhã.
Esta preguiça que te tem torturado
É um sintoma perceptível;
que não te importas com o tempo,
logo com o que não poderias deixar de resolver.
Sabes: não fez ontem, hoje, nem fará amanhã
o que tu podias ter feito.
Procrastinar sempre é teu pior defeito.
Ilustração: Qualiteam.
THE HOUSEGUEST Marci Calabretta Cancio-Bello Forgiveness was sitting in your kitchen when you got
home, and now rests elbows on the table to watch you reach for a knife. You
scrape the papery skin from a ginger root and slice it into thin coins. You
think too hard about which mugs to pull from your cupboard: you might reveal
too much; should you offer the one with the uncomfortable handle? Water
boils. You divide the ginger evenly into both cups and pour. Spoonful of
honey. You stir slowly, eyes down as though you might be able to forget. You
stir too long. Forgiveness coughs politely, so you turn, place both mugs on
the table, sit. Forgiveness leans forward. You lean back. You have forgotten
what it is like to live with someone who eats all your cut watermelon, picks
clean the skeletal vine of red grapes, shakes water spots onto your bathroom
mirror without wiping them away. What thresholds of welcome have you crossed
and recrossed? Most mornings, you listen for the body to move through your
house and out the door before leaving your bedroom. Most nights, you ghost
around each other without speaking. But now, as the rain drizzles into
gloaming, you settle into your chairs, inevitable, a cupful of hesitation
finally beginning to loosen your tongues O HÓSPEDE O perdão estava sentado
na sua cozinha quando você chegou em casa, e agora apoia os cotovelos na mesa
para ver você alcançar uma faca. Você raspa a casca fina de uma raiz de
gengibre e a corta em moedas finas. Você pensa duramente sobre quais canecas
tirar do seu armário: você pode revelar demasiado; você deve oferecer uma que
tem a alça desconfortável? A água ferve. Você divide o gengibre uniformemente
em ambas as xícaras e despeja. Colher de mel. Você mexe lentamente, olhos
baixos como se pudesse esquecer. Você mexe por longo tempo. O perdão tosse polidamente,
então você se vira, coloca as duas canecas na mesa, senta. O perdão se
inclina para a frente. Você se inclina para trás. Você se esqueceu de como é
viver com alguém que come toda a sua melancia cortada, colhe as uvas
vermelhas e limpa a videira esquelética, joga manchas de água no espelho do
seu banheiro sem limpá-las. Quais limites de boas-vindas você cruzou e recruzar?
Na maioria das manhãs, você escuta o corpo se mover pela casa e sair pela
porta antes de sair do seu quarto. Na maioria das noites, vocês se escondem
sem falar. Mas agora, enquanto a chuva cai no crepúsculo, vocês se acomodam
em suas cadeiras, inevitável, uma xícara cheia de hesitação finalmente começar
a soltura das suas línguas Ilustração: ArchDaily
Brasil. |
Não esperarei mais por tua
volta.
A porta está aberta, a
fechadura destravada,
Mas as dores do passado estão
mortas.
Nem sei se terei mais alegria
Na tua companhia. E se chegas
serás uma incógnita
Depois de tantos dias de
silêncio e esquecimento.
Serás, por acaso, a mesma nos
carinhos e beijos?
Ou, pelos caminhos, na busca
de esperança,
Em imaginários desejos e
lábios outra se fez?
Nem sempre depois da tempestade a vida recompõe
O que as águas e os ventos destruíram. São fatos.
A passagem pode não ser
visível e ser mortal.
Na realidade do viver se
afoga a utopia
E o ponto na distância some,
ou se agiganta,
Dependendo do olhar. Talvez
não haja o que restaurar...
Talvez quando voltares se
rasgue a fantasia,
Todo o passado, seja um mundo
fictício; o amor, um vício.
Nosso romance, uma mera
ilusão.
Não esperarei tua chegada...
partido estou na partida.
(De "Àguas Passadas", Editora Per Se, 2013).
Ilustração: Retalhos de Amor.
NO HAY NADIE
Joaquín O. Gionnuzzi
Celebro esta confusión al salir
del sueño,
pálida escarcha en el vidrio,
cuando el calor interno, todavía,
elabora en mi cabeza un campo discontinuo
de lenguaje en preparación:
minutos antes
del agua fría y de mi entrada
al orden que juntará los fragmentos,
en cuanto suene el golpe
de la primera puerta en el edificio,
el grito del teléfono
y la radio anunciando una temperatura
de dos grados bajo cero en la ciudad
y, lo que es peor,
que se ha lanzado una llamada al espacio exterior
y nadie ha respondido todavía.
NÃO HÁ NINGUÉM
Celebro
esta confusão ao sair do sono,
geada
pálida no vidro,
quando o
calor interno, todavia,
elabora
na minha cabeça um campo descontínuo
de
linguagem em preparação:
minutos
antes
de água
fria e de minha entrada
à ordem
que juntará os fragmentos,
enquanto
soar o golpe
da
primeira porta do edifício,
o grito
do telefone
e o rádio
anunciando uma temperatura
dois
graus abaixo de zero na cidade
e, o que
é pior,
que se há
lançado uma chamada para o espaço sideral
e ninguém
havia respondido, todavia.
Ilustração:
Hydra Ficções.
EL
RÍO
Juan
Bonilla
Si pudiera elegir, sería
un río.
Siempre el mismo pero sin
ser el mismo nunca.
Un río hundiéndose como
daga en el mar
en el exacto instante
repetido
en el que también nace
sin testigo alguno
entre las grietas de una
peña y se desliza como lágrima.
Y a cada instante ser
también
hilo de agua solitario
entre árboles pacientes
que levanta un rumor de
agua nerviosa
o se ensancha orgulloso
al paso de ciudades
por reflejar torres del
oro y vanas catedrales,
o da de beber al ganado
en un recodo
o se inventa piscinas
para que se bañen los chavales.
No, nuestras vidas no son
ríos:
ellos siguen naciendo
cuando mueren,
siguen corriendo alegres,
violentos,
o se remansan en los
valles.
Si pudiera elegir sería
un río, cualquier río.
Algo que siempre está
naciendo,
algo que está pasando
siempre,
algo que muere en cada
instante.
O
RIO
Se eu pudesse escolher,
seria um rio.
Sempre o mesmo, porém,
sem ser o mesmo nunca.
Um rio afundando como uma
adaga no mar
no exato instante
repetido
em que também nasce sem
testemunha alguma
entre as brechas de uma
pedra e desliza como uma lágrima.
E a cada instante ser
também
fio de água solitário entre
árvores pacientes
que levanta um rumor de
água nervosa
ou alarga-se orgulhoso à
passagem das cidades
por refletir torres de
ouro e catedrais vãs,
ou dê de beber ao gado em
uma curva
ou invente piscinas para
as crianças se banharem.
Não, nossas vidas não são
rios:
eles seguem nascendo
quando morrem,
seguem correndo alegres,
violentos,
ou descansam nos vales.
Se pudesse escolher,
seria um rio, qualquer rio.
Algo que sempre está
nascendo,
algo que está passando
sempre,
algo que morre em cada
instante.
Ilustração: Diário do
Rio.
Ah! Dona mosquinha, sua mosca tosca, vem, logo agora, em plena a pandemia abusar assim de minha companhia? Vem com seu zumbido nesta infausta hora me importunar como se soubesse que sem inseticida não posso te pegar. Tento te matar, mas, da raquete
zomba, do pano, da toalha, da mão que em vão tomba sem meios de alcançar esta criaturinha, que tão rapidinha consegue escapar. Mosca brincalhona que faz a maior zona sem em nada alterar seu voo regular. Como suportar esta praga urbana que, por zombaria, talvez ironia, cai devagarinho e se afoga de mansinho, sem a menor graça, na última taça de meu melhor vinho? Ilustração: Tudo Gostoso.
|
|
|
MANTLE Kevin Young
|