Sunday, April 13, 2025

A Destruição de Charles Baudelaire

  


LA DESTRUCTION

Charles Baudelaire
Sans cesse à mes côtés s'agite le Démon;
Il nage autour de moi comme un air impalpable;
Je l'avale et le sens qui brûle mon poumon
Et l'emplit d'un désir éternel et coupable.

Parfois il prend, sachant mon grand amour de l'Art,
La forme de la plus séduisante des femmes,
Et, sous de spécieux prétextes de cafard,
Accoutume ma lèvre à des philtres infâmes.

Il me conduit ainsi, loin du regard de Dieu,
Haletant et brisé de fatigue, au milieu
Des plaines de l'Ennui, profondes et désertes,

Et jette dans mes yeux pleins de confusion
Des vêtements souillés, des blessures ouvertes,
Et l'appareil sanglant de la Destruction!

A DESTRUIÇÃO

Sem cessar se agita o Diabo ao meu lado;

Ele nada ao meu redor como um ar impalpável;

Eu engulo e sinto meu pulmão queimando.

E o enche de um desejo eterno e culpável.

 

Às vezes toma, ciente do meu grande amor pela Arte,

A forma das mais sedutoras mulheres,

E, sob pretextos especiosos de farsante,

Acostuma meus lábios a poções infames.

 

E assim me conduz para longe da vista de Deus,

Ofegante e quebrado de fadiga, ao centro

Das planícies do Tédio, profundas e desertas,

 

E cheios de confusão deixa nos olhos meus

Roupas sujas, feridas abertas,

E a Destruição, seu adereço sangrento!

Ilustração: Aventura na História.

Uma poesia de Humberto Díaz Casanueva

 


DOTO MI VIDA DE UNA ESPERANZA AGÓNICA

Humberto Díaz Casanueva

Úntenme manos traspasadas por un

clavo de oro macizo

manos cuelgan del hombre

manos pinchadas

Tengo hambre

hambre del sueño que afluye en la

mínima sal

Todo mi cuerpo pegajoso

de moscas sucias y doradas

DOU À MINHA VIDA UMA ESPERANÇA AGONIZANTE

Unge-me as mãos trespassadas por um

prego de ouro maciço

mãos penduradas no homem

mãos picadas

Tenho fome

fome de sono que flui do

sal mínimo

Meu corpo inteiro pegajoso

de moscas sujas e douradas

Ilustração: Canção Nova.




MUDANDO O OLHAR

 


Comprei uns óculos de lentes azuis

para ver o mundo de outra forma.

E, supreendentemente, deu certo,

o que não é de norma.

Tudo ficou belo e repleto

de um encanto novo no ar,

mesmo sendo tudo igual ao olhar,

as coisas ficaram diferentes,

pela frente, em lindas amostras,

embora como todo ser prudente,

não comemoro muito cedo,

continuo a ter muito medo

do que pode vir pelas costas!

Ilustração: Dreamstime.

Friday, April 11, 2025

Uma poesia de Kenneth Rexroth

 


CONFUSION

Kenneth Rexroth

I pass your home in a slow vermilion dawn,

The blinds are drawn, and the windows are open.

The soft breeze from the lake

Is like your breath upon my cheek.

All day long I walk in the intermittent rainfall.

I pick a vermilion tulip in the deserted park,

Bright raindrops cling to its petals.

At five o'clock it is a lonely color in the city.

I pass your home in a rainy evening,

I can see you faintly, moving between lighted walls.

Late at night I sit before a white sheet of paper,

Until a fallen vermilion petal quivers before me.

CONFUSÃO

Eu passei por sua casa num lento amanhecer vermelho,

As persianas fechadas e as janelas abertas.

A brisa suave do lago

como sua respiração sobre o meu rosto.

Todo o longo dia eu caminhei sob a chuva intermitente.

Eu peguei uma tulipa vermelha no parque deserto,

Brilhantes  gotas de chuva agarram-se às suas pétalas.

Às cinco horas há uma cor solitária na cidade.

Eu passei por sua casa numa noite chuvosa,

Eu posso vê-la fracamente, movendo-se entre paredes iluminadas.

Tarde da noite, eu me sento diante de uma folha de papel branca,

Até que uma pétala vermelha caída estremeça diante de mim.

Ilustração: Creative Fabrica.

CARTÃO DE VISITA DIGITAL

 


Nome: Silvio Persivo

Cor: Em geral branca, mas depende do local onde estou. Já me senti até sem cor quando nem os brancos nem os negros me aceitavam em Washington D.C.  

Residência: Qualquer toca, espaço pequeno, com uma cama, uma geladeira, uma mesa em Porto Velho, Londrina ou Rio de Janeiro, onde possa dormir.

E-mail: silvio.persivo@gmail.com.

Ocupação: Aposentado, poeta, blogueiro, bebedor de vinho e de cerveja, ocasionalmente de caipirinha ou cachaça, ouvinte de boa música (e com o som baixo, por favor), quase monge não fosse a compulsão por uma boa feijoada, carne de porco e dourado ao molho de camarão. Escritor preguiçoso e um dos melhores amantes do mundo, segundo meus próprios sonhos noturnos.

Sinais característicos: Um fogo eterno, um desejo incessante de vida, de paixão, de amor, um verdadeiro buraco negro que atrai quem deseja fazer da existência um permanente carnaval. 

Bens: Afora os que vendi todos os outros estão dependendo da Justiça, ou seja, por enquanto, sou um cidadão muito rico de sonhos. Imaginariamente sou dono do mundo todo, da lua e de algumas estrelas. Não me atrevo a tomar conta do sol.

Orgulho: De ser um sobrevivente que nunca deixou de lutar por um futuro melhor. E das mulheres que amei: todas amaram o que não sou. Elas podem reclamar de mim. Delas não tenho reclamações.  Eu também vivo de ilusões

Expectativas: Continuar a sonhar que dias melhores virão e acreditar que o Brasil, apesar de tudo, será o país do futuro.

 

Uma poesia de Manuel Rueda

 


ME LEVANTO, ME AFEITO, ME ACOMODO

Manuel Antonio Rueda González

Me levanto, me afeito, me acomodo
a la vida y doy bajo la ducha
a la piel de mis sueños tanta lucha
que al sumidero van, vueltos ya lodo.
Retomo mi lugar, mi voz, mi apodo
salgo al día: la luz ahora es mucha.
Hago ruido, me muevo: nadie escucha.
Vuelvo a mi soledad, después de todo.
Cada hora a mis ritos de hombre sano.
Sonreír al que pasa. Dar la mano
al amigo, al malvado, al pordiosero.
Pero al fin a mi cuarto nuevamente,
a encontrarme conmigo frente a frente
sin saber si es que vivo o es que muero.

ME LEVANTO, ME BARBEIO, ME ARRUMO

Eu me levanto, me barbeio, me arrumo

para a vida e tomo um banho de ducha

na pele dos meus sonhos tanta luta

que vão para o ralo, feitos lodo.

Retomo meu lugar, minha voz, meu apelido

Saio para o dia: a luz agora é muita.

Faço ruído, me movo: ninguém escuta.

Volto à minha solidão, depois de tudo.

Cada hora, aos meus ritos de homem são.

Sorrio ao que passa. Dou a mão

ao amigo, ao malvado, ao mendigo.

Porém, ao fim no meu quarto novamente,

me encontro comigo frente a frente

sem saber estou vivo ou se morro.

Ilustração: Pplware-SAPO.

Thursday, April 10, 2025

Uma poesia de Leonora Simonovis

 


LITTLE BRUJA

Leonora Simonovis

      There’s nothing left except to try.

      -Mrs. Whatsit in A Wrinkle in Time

I tried, believe me, I did, but my cheap Caribou jeans

and Buster Brown polos couldn’t match the prestige

of Levi’s, Nikes, Lacoste worn by my fifth-grade classmates

who visited Magic Kingdom every summer. There was

Claudia with her button-y nose and perfect smile;

blonde and green-eyed Caroline. Despite her rumpled clothes,

she looked like a queen. And then Federico, who pulled

my braids and boasted about meeting Mickey Mouse. I said

mice are dirty, they poop everywhere, will make you sick.

You’d know, he sneered-I wished him gone. Abuela told me

about giving mal de ojo to a woman who spoke ill of her.

The woman got sick, almost died. One day Federico fell,

pierced his knee on a sharp piece of metal. I whispered in his ear

as he wailed: I don’t need to go to Magic Kingdom. Magic is in my blood.

A     PEQUENA BRUXA

Não resta nada a não ser tentar.

-Sra. Whatsit em Uma Dobra no Tempo

Eu tentei, acredite em mim, eu tentei, mas meus jeans Caribou barato

e polos Buster Brown não conseguiam igualar o prestígio

das Levi's, Nikes e Lacoste usadas pelos meus colegas da quinta série

que visitavam o Magic Kingdom todo verão. Havia

Claudia com seu narizinho de botão e sorriso perfeito;

Caroline, loira e de olhos verdes. Apesar das roupas amarrotadas,

ela parecia uma rainha. E então Federico, que puxou

minhas tranças e se gabou de ter conhecido o Mickey Mouse. Eu disse

que ratos são sujos, eles fazem cocô em todo lugar, vão te deixar doente.

Você saberia, ele zombou - eu queria que ele fosse embora. A avó me disse

sobre dar mal olhado a uma mulher que falou mal dela.

A mulher adoeceu, quase morreu. Um dia Federico caiu,

furou o joelho em um pedaço de metal afiado. Sussurrei em seu ouvido

enquanto ele chorava: Não preciso ir para o Magic Kingdom. A magia está no meu sangue.

Ilustração: Escola de Feltro.

Que Venha o Amanhã

 


Que venha o amanhã

com a festa merecida

com o gosto doce de quero mais, de vida.

Que venha o amanhã

com gosto de alfenim

para preencher os dias

com esta desbragada alegria

que prometeram para mim.

Que venha o amanhã

com a claridade do sol,

com o botão de rosa se abrindo,

com os olhos do meu amor,

que traz os sonhos sorrindo,

colocando doçura no viver.

Que venha o amanhã

nos fazendo de novo ser crianças

perdidas na gostosa dança

de aprender em cada dia

que só nos salva mesmo a alegria

e a vontade imensa

de amar, de ser feliz, de viver.

Ilustração: Aminos Apps.

Wednesday, April 09, 2025

Outra poesia de Laura Casielles

 


Laura Casielles

éramos reacias al GPS

pero hubo que admitir al fin que daba unos consejos

estupendos

                      tome ahora la primera salida

por ejemplo

                      por favor trate de mantenerse a la izquierda

nos decía a veces que íbamos por un camino inexistente

                     recalculando ruta

                    recalculando ruta

 

erámos relutantes em usar o GPS

porém tive que admitir ao fim que dava alguns conselhos

estupendos

                      tome agora a primeira saída

Por exemplo

                      Por favor, trate de manter-se à esquerda

Nos dizia, às vezes, que íamos por um caminho inexistente

                      recalculando a rota

                      recalculando a rota

Ilustração: Conecte-Já-Proteste. 

Tuesday, April 08, 2025

Uma poesia de Scottie McKenzie Frasier


 

THE THINGS I LOVE

Scottie McKenzie Frasier

A butterfly dancing in the sunlight,

A bird singing to his mate,

The whispering pines,

The restless sea,

The gigantic mountains,

A stately tree,

The rain upon the roof,

The sun at early dawn,

A boy with rod and hook,

The babble of a shady brook,

A woman with her smiling babe,

A man whose eyes are kind and wise,

Youth that is eager and unafraid-

When all is said, I do love best

A little home where love abides,

And where there’s kindness, peace, and rest.

AS COISAS QUE EU AMO

Uma borboleta dançando sob a luz do sol,

Um pássaro cantando para sua companheira,

Os sussurros dos pinheiros,

A inquietude do mar,

As gigantescas montanhas,

Uma imponente árvore,

A chuva no telhado,

O sol ao amanhecer,

Um menino com vara e anzol,

O balbucio de um riacho sombrio,

Uma mulher com seu bebê sorridente,

Um homem cujos olhos são bons e sábios,

A juventude ansiosa e destemida-

Quando tudo for dito, eu posso amar mais

Uma pequena casa onde o amor habita,

E onde há bondade, paz e descanso.

Ilustração: Expatriada por Amor.

 

Uma poesia de Laura Casielles

 


Laura Casielles

¿cómo se termina una pelea?

te doy un truco

puedes pedir perdón muchas veces y hacerte
muy pequeña

así te acaban diciendo venga déjalo está bien
y se resuelve todo

porque a alguien tan diminuto no se le puede odiar

 

Como se termina uma briga?

te dou um truque

podes pedir perdão muitas vezes e se fazer

de muito pequeno

assim te acabam dizendo: "Vamos deixá-lo está bem

e se resolve tudo

porque a alguém tão pequeno não se pode odiar

 

Monday, April 07, 2025

Manhã em Azul

 


Despertar em abril

com o aroma do café e dos jasmins

inundando as narinas

num notável silêncio sob um céu profundamente azul.


Despertar com o sol, febril, com o gosto de vida na boca 

pedindo mais carinhos, mais beijos, mais amor.


Despertar como um deus, invencível, 

se sentindo imortal, doce, maduro,

capaz de usufruir todas as paixões


com a esperança de ser 

eternamente feliz. 

Sunday, April 06, 2025

Um poema de Fran Garcerá

 


MOMENTO PRIMERO II

Fran Garcerá

Digo «yo», cruje la cáscara de la nuez que sostengo entre las muelas. Puede que algún día me encuentre con la horma de mi presión: en vez del fruto partido, mi boca. Será esta cavidad una rotura nueva

.                                en su grieta un nacimiento. Quién conoce el secreto que guarda el interior oscuro del molar, el corazón de la nuez roja. Lo oscuro y cálido. Un universo que se expande, que ha nacido y podría ser principio y término del paisaje, un abismo que engulle y crea. Una voluntad que siempre fue, que siempre estuvo, que permaneció adormecida. Lo feroz redivivo.

PRIMEIRO MOMENTO II

Digo "eu", estala a casca de noz que seguro entre meus molares. Pode ser que algum um dia me encontre o modelo da minha pressão: em vez da fruta partida, minha boca. Será esta cavidade uma ruptura nova?

                                    em sua fenda um nascimento. Quem conhece o segredo escondido que guarda o interior escuro do molar, o coração da noz vermelha? O escuro e o quente. Um universo que se expande, que nasceu e podia ser o princípio e o termino da paisagem, um abismo que engole e cria. Uma vontade que sempre foi, que sempre esteve, que permaneceu adormecida. O feroz revivido.

Ilustração: Personare.

Uma poesia de Gia Anansi-Skakur

 


 

    THE OWL

Gia Anansi-Shakur

    after Louise Glück’s “October

Violence has changed
me something beautiful
worldly, not comfortable
living in a mouth

 

I’ve long made habit
of pulling off my skin
by the forearm
at night
joining the arteries
of lapping tongues and hardened wounds.

 

I’ve found joy
meditating on the quality
of my self served stigmatas
fracturing the columns
of holy books

 

An owl opens its mouth
a church bell climbs out
akimbo
She has learned
to tightrope in the dark

A CORUJA

                               depois de "Outubro" de Louise Glück

A violência mudou

em mim alguma coisa linda

terrestre, não confortável

vivendo em uma boca

 

Há muito tempo tenho o hábito

de arrancar minha pele

pelo antebraço

à noite

juntando as artérias

de línguas lambidas e feridas endurecidas.

 

Eu encontrei alegria

meditando sobre a qualidade

dos meus autossuficientes estigmas

fraturando as colunas

de livros sagrados

 

Uma coruja abre a boca

um sino de igreja sobe

na cintura

Ela aprendeu

a andar na corda bamba no escuro

Ilustração: ND Mais.

Friday, April 04, 2025

Cada um dá o que tem

 


O poeta é um bobo

que só fala de amor, de flores, de saudades.

É verdade.

Sou um obscurantista, o que muito me envaidece.

Brilhante na minha escuridão, 

às vezes, me deixo levar pelo momento

e me perco num lamento,

me encontro numa prece.

E, no buraco negro onde vivo enfiado,

serei sempre culpado

de falar de amor, de vida, de poesia-

coisas de uma magia, 

que muitos desconhecem. 

Cada um, no entanto, canta 

o que tem dentro de si. 

E sobre o que sua má língua diz de mim

só merece meu silêncio 

e, com indulgência e compreensão, 

te perdoo pedindo desculpas, 

o que me faz sorrir

é ser tão bom de coração

(só não abuse não!).

Ilustração: Facebook.

Thursday, April 03, 2025

Um poema de Joseph Millar

 

 


JOB

Joseph Millar

I’ve just come from walking to and fro
in the earth, Satan tells God
before they make the wager
standing for centuries
as metaphor of man’s existence— 
trapped on the wheel like an insect
under a microscope:
his disastrous ecology,
his ravaged immune system,
even his broken-veined, wine-flushed face
looking back from the rearview
and parked alone by the river.
He should have been born
with fins, he thinks
as the swans arch and preen
and attack one another
though everyone says they mate for life
and the afternoon wind
raises welts of sunlight
over the torqued and rippling surface
and the beautiful ravenous fish.

OCUPAÇÃO

Eu justo vim de uma caminhada de um lado para o outro

na terra, Satanás diz a Deus

antes que eles façam a aposta

permanecendo por séculos

como metáfora da existência do homem-

preso na roda como um inseto

sob um microscópio:

sua desastrosa ecologia,

seu devastado sistema imunológico,

até mesmo seu rosto de veias rompidas e corado de vinho na face

olhando para trás pelo retrovisor

estacionando sozinho perto do rio.

Ele deveria ter nascido

com nadadeiras, ele pensa

enquanto os cisnes se arqueiam e se alisam

e atacam uns aos outros

embora cada um diga que eles acasalam para a vida

e o vento da tarde

levanta vergões de luz solar

sobre a torcida e ondulada superfície

e os belos e vorazes peixes.

Ilustração: dnotícias.pt.

O Mar de Claribel Alegria

 


MAR

Claribel Alegria

Aquí estoy otra vez sobre tu arena
mar de pupilas hondas y sombrías
Regreso bajo el luto de mis días
a buscar la raíz de mi condena.

Un temblor de amargura me encadena
al rimo eterno de tus olas frías.
En el insomnio gris de tus bahías
oigo latir el pulso de mi pena.

Mar de voces profundas y nubladas
abraza ya mis lágrimas gastadas,
desflécame en tu angustia serpentina.

Mar de labios ausentes en la bruma,
lamento alzado en túmulos de espuma,
unge mi voz con tu embriaguez salina.

MAR

Aqui, outra vez, sobre tua areia estou

mar de pupilas profundas e escuras

Regresso sob o luto dos meus dias

a buscar a raiz do condenado que sou.

 

Um tremor de amargura me algema

ao ritmo eterno das tuas ondas frias.

Na insônia cinzenta das tuas baías

Ouço o pulsar da minha lástima.

 

Mar de vozes profundas e nubladas

Abraça já minhas lágrimas gastadas,

desfie-me em tua angústia serpentina.

 

Mar de lábios ausentes na bruma,

lamento erguido em montes de espuma,

unge minha voz com tua embriaguez salina.

Ilustração: Blog do Pascal.