ORIGEN II
Fran Garcerá
El día que nació mi
deidad tenía quince años y me miraba en el espejo del baño. No era un lugar
majestuoso era íntimo, había agua, tierra, la ventana abierta al fondo, sudaba.
Me observaba con atención. Surgió con una calma agitada: «¿Por qué a mí? ¿Por qué
yo?». Aquello era un aliento primigenio que aceptó que siempre fue que siempre
estuvo.
No se abrió el mar.
Tampoco fue todo silencio. Estaba el canto exaltado de las golondrinas. Tiempo
después derribaron sus nidos y ninguna voluntad, tampoco la mía, detuvo la
aniquilación.
Me lavé las manos y cerré
la puerta del baño. La imagen en mi frente zumbaba o quizás era mi dios
radiante. Bajé los escalones y salí a la calle. Era verano el aire olía
incomparable. Respiraba. Tenía en mi lengua una verdad: «Soy». En fracciones de
segundo, hallé un mundo.
ORIGEM II
No dia em que minha
divindade nasceu, tinha quinze anos e me
olhava no espelho do banheiro. Não era um lugar majestoso, era íntimo, havia
água, terra, a janela estava aberta ao fundo, suava. Me observava com atenção.
Surgiu com uma calma agitada: "Por que a mim?" "Por que
eu?" Aquelo era uma respiração primordial que aceitou que sempre fui, que
sempre estive.
O mar não se abriu. Tampouco foi tudo silêncio. Havia o canto exaltado das andorinhas. Tempos depois derrubaram seus ninhos e nenhuma vontade, nem mesmo a minha, deteve a aniquilação.
Lavei as mãos e fechei a
porta do banheiro. A imagem na minha testa zumbia ou talvez fosse meu deus
radiante. Desci as escadas e saí para a rua. O verão estava no ar com um cheiro incomparável. Respirava. Tinha na
minha língua uma verdade: "Eu sou". Em frações de segundo, encontrei
um mundo.
Ilustração: Dreamstime.

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