Thursday, April 17, 2025

Fran Garcerá, pois

 


ORIGEN II

Fran Garcerá

El día que nació mi deidad tenía quince años y me miraba en el espejo del baño. No era un lugar majestuoso era íntimo, había agua, tierra, la ventana abierta al fondo, sudaba. Me observaba con atención. Surgió con una calma agitada: «¿Por qué a mí? ¿Por qué yo?». Aquello era un aliento primigenio que aceptó que siempre fue que siempre estuvo.

No se abrió el mar. Tampoco fue todo silencio. Estaba el canto exaltado de las golondrinas. Tiempo después derribaron sus nidos y ninguna voluntad, tampoco la mía, detuvo la aniquilación.

Me lavé las manos y cerré la puerta del baño. La imagen en mi frente zumbaba o quizás era mi dios radiante. Bajé los escalones y salí a la calle. Era verano el aire olía incomparable. Respiraba. Tenía en mi lengua una verdad: «Soy». En fracciones de segundo, hallé un mundo.

ORIGEM II

No dia em que minha divindade nasceu, tinha quinze anos e  me olhava no espelho do banheiro. Não era um lugar majestoso, era íntimo, havia água, terra, a janela estava aberta ao fundo, suava. Me observava com atenção. Surgiu com uma calma agitada: "Por que a mim?" "Por que eu?" Aquelo era uma respiração primordial que aceitou que sempre fui, que sempre estive.

O mar não se abriu. Tampouco foi tudo silêncio. Havia o canto exaltado das andorinhas. Tempos depois derrubaram seus ninhos e nenhuma vontade, nem mesmo a minha, deteve a aniquilação.

Lavei as mãos e fechei a porta do banheiro. A imagem na minha testa zumbia ou talvez fosse meu deus radiante. Desci as escadas e saí para a rua. O verão estava no ar  com um cheiro incomparável. Respirava. Tinha na minha língua uma verdade: "Eu sou". Em frações de segundo, encontrei um mundo.

Ilustração: Dreamstime.

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