Tuesday, January 30, 2007

CASAL DO SÉCULO XXI

Depois do sexto casamento te encontrar,
Apesar dos tantos anos entre nós,
Foi como um sinal de que era para parar
E que, finalmente, havia, outra voz,
Outra vez sentido para o amor e para a vida.
Nos amamos como seria impossível
Imaginar lado a lado, inseparáveis
Em cada momento, em todo instante, lugar.
Só em mim, por tradição, havia
O leve instinto de trair ou abandonar
Tudo que vivíamos a compartilhar.
Devo confessar que te traí primeiro,
Mas tu, que não parecias capaz de me trair,
É verdade me traístes muito mais.
Depois por outro amor inesperado
Como um cachorrinho abandonado
Me largastes a choramingar inconformado.
Te pedi por todos os santos para voltar
Sem o menor resultado.
Não nego que dei vexame,
Bebendo pelos cantos e bares,
Lamentando em todos os lugares,
Como um louco, sem precisar de exame,
Agredindo teu amante em plena rua,
Mas como não sentir saudades tuas
E não ter raiva de quem usava o corpo teu
Embora também, vez por outra, fosse meu?
Tudo, no entanto não tem valor, pura asneira.
Tudo passa e vira folclore ou lenda
No fundo uma mera brincadeira
E amar não é apenas o outro suportar
É, acima de tudo, desejar seu bem.
Esqueçamos. Por favor, logo volta, vem!
Bem sabes que sempre esteve aberta a porta
E este negócio de se separar
Não é forma para que o amor se aprenda.
Fica bem para pessoas fracas,
Incapazes de amar e superar problemas.
Amor grande, casamento verdadeiro, real
É o que suporta as tempestades,
Mas resiste. Vem de volta com a alegria.
Deixa pra lá os tempos tristes, o dia
É hoje, a hora é agora.
Nós enfrentamos tudo juntos.
Não somos covardes.
Vamos dar uma festa de regresso,
Sorrir de tudo que passou
E, pela madrugada adentro,
Celebrar o nosso grande amor
Com todo seu pesar e seu contentamento.


(De Poemas Mal-Comportados).

No comments: