Monday, September 26, 2011

Ainda Pedro Salinas


DON DE LA MATERIA

Pedro Salinas

Entre la tiniebla densa
el mundo era negro: nada.
Cuando de un brusco tirón
—forma recta, curva forma—
le saca a vivir la llama.
Cristal, roble, iluminados,
¡qué alegría de ser tienen,
en luz, en líneas, ser
en brillo y veta vivientes!
Cuando la llama se apaga,
fugitivas realidades,
esa forma, aquel color,
se escapan.
¿Viven aquí o en la duda?
Sube lenta una nostalgia
no de luna, no de amor,
no de infinito. Nostalgia
de un jarrón sobre una mesa.
¿Están?
Yo busco por donde estaban.
Desbrozadora de sombras
tantea la mano. A oscuras
vagas huellas, sigue el ansia.
De pronto, como una llama
sube una alegría altísima
de lo negro: la luz del tacto.
Llegó al mundo de lo cierto.
Toca el cristal, frío, duro,
toca la madera, áspera.
¡Están!
La sorda vida perfecta,
sin color, se me confirma,
segura, sin luz, la siento:
realidad profunda, masa.

O dom da matéria

Entre as densas trevas
o mundo era negro, nada.
Quando um brusco safanão
-de forma reta e curvada-
acende de vez a chama.
Cristal, carvalho, iluminados,
que alegria de ser tem
em luz, em linhas, ser
vivendo em brilho e grãos!
Quando a chama se apaga,
fugitivas realidades,
essa forma, aquela cor,
se escapam.
Vives aqui ou na dúvida?
Adicione lentamente uma nostalgia
não de lua ou de amor,
nem de infinito. Nostalgia
de um jarro sobre uma mesa.
Onde estão?
Eu busco por onde estavam.
Desbravadora de sombras
tateia a mão. Às escuras
traços vagos, segue a ânsia.
De repente, como uma chama
sobe uma altíssima alegria
de preto: a luz do tato.
Chego ao mundo do certo.
Toca o cristal, frio, duro,
toca a madeira, àspera.
Onde estão!
A surda vida perfeita
sem cor, só me confirma,
seguro, sem luz, a sinto:
realidade profunda, massa.

Ilustração: Umberto Boccionni

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