Friday, February 22, 2008

DOIS POEMAS DE PASOLINI





No meio de antigos papéis encontrei as duas versões que fiz dos poemas de Pasolini, porém, não encontrei os poemas originais nem a fonte, mas, suponho que sejam de "A Religião do Meu Tempo"

ANÁLISE TARDIA
(Fim dos anos Sessenta)
Pier Paolo Pasolini
Se bem, se bem que estou no fundo da fossa;
Que tudo aquilo que toco já hão tocado;
Que sou prisioneiro de um interesse indecente;
Que cada convalescença é uma recaída;
Que as águas estão estancadas e tudo tem um sabor velho;
Que também o humorismo forma parte do bloco inamovível;
Que não faço outra coisa senão reduzir o novo ao antigo;
Que não desejo todavia reconhecer quem sou;
Que já perdi até a antiga paciência de ourives;
Que a velhice há ressaltado por impaciência apenas a miséria;
Que não sairei nunca daqui por mais que sorria;
Que dou voltas de um lado ao outro pela terra como uma fera enjaulada;
De que tenho tantas cordas que tenho terminado por tirar de uma só;
Que me gosta enlamear-me porque o barro é matéria pobre e, portanto, pura;
Que adoro a luz somente se não oferece esperança.


AO PRINCÍPE

Pier Paolo Pasolini

Se regressa o sol, se cai a tarde,
Se a noite tem um sabor de noites futuras,
Se um sono de chuva parece regressar
De tempos demasiado amados e jamais possuídos de todo,
Já não encontro felicidade nem em gozar o sofrer por si mesmo:
Já não sinto diante de mim toda a vida...
Para ser poeta há que ter muito tempo:
Horas e horas de solidão são o único modo
Para que se crie algo, que é força, abandono,
Vício, liberdade, para dar estilo ao caos.
Eu, agora, tenho pouco tempo: por culpa da more
Que me vem em cima, no ocaso da juventude.
Porém por culpa também do nosso mundo humano
Que rouba o pão dos pobres e dos poetas da paz.

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