Saturday, October 11, 2014

Borges volta numa revisão de uma tradução que não gostei no passado


Sábados

Jorge Luis Borges

Afuera hay un ocaso, alhaja oscura
engastada en el tiempo,
y una honda ciudad ciega
de hombres que no te vieron.
La tarde calla o canta.
Alguien descrucifica los anhelos
clavados en el piano.
Siempre, la multitud de tu hermosura.
A despecho de tu desamor
tu hermosura
prodiga su milagro por el tiempo.
Esta en ti la ventura
como la primavera en la hoja nueva.
Ya casi no soy nadie,
soy tan solo ese anhelo
que se pierde en la tarde.
En ti esta la delicia
como esta la crueldad en las espadas.
Agravando la reja esta la noche.
En la sala severa
se buscan como ciegos nuestras dos soledades.
Sobrevive a la tarde
la blancura gloriosa de tu carne.
En nuestro amor hay una pena
que se parece al alma.

que ayer solo eras toda hermosura
eres tambien todo amor, ahora.


Sábados

 Lá fora há um pôr do sol, jóia escura
 engastada no tempo,
 e uma profunda cidade cega
 de homens que não te viram.
 A tarde cala o canto.
 Alguém descrucifica os anseios
 cravados num piano.
 Sempre, a grandeza da tua formosura.
 A despeito do teu desamor
 a tua formosura
 produz  milagre pelo tempo.
 Esta em ti a ventura
 como a primavera na folha nova.
 Já quase não sou  ninguém,
 sou tão só este anseio
 que se perde pela tarde.
 Em ti está a delícia
 como está a crueldade nas espadas.
  Agravando a prisão esta noite.
  Na sala triste
  se buscam como cegos nossas duas solidões.
  Sobrevive à tarde
  a brancura gloriosa de tua carne.
  Em nosso amor há uma pena
  que se parece à alma.
  Tu,
  que ontem, eras toda formosura
  és também todo o amor,  agora.


  Ilustração: funny-pictures.picphotos.net

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