Thursday, April 06, 2017

O AMOR NOS TEMPOS OBSCUROS


A verdade é que a tua lembrança, agora,
é uma vaga memória do passado.
Esqueci todas as noites longas de amor,
todos os dias de ternura, de desejos loucos,
da forma como me perdi loucamente
nos teus lábios vermelhos
em danças que se espraiavam pelos espelhos
enquanto aprendia a geografia mansa e doce
de teu corpo que naveguei
como um mar sem fim
à procura de ti, de mim,
de um tesouro de paixão e prazer.

Esqueci, sinto muito, esqueci
como foi me lançar do alto de um abismo
sem paraquedas
e amar a queda no teu amor
que me elevava e consumia-
vulcão em cuja a lava
me lavava
de lama negra e de quentura
com o frio prazer
de quem sorve um sorvete
num dia quente.

Sinto muito.
Esqueci de ti. Não lembro mais.
Nem quero lembrar.
Continuo a viver esquecendo este amor
Que não me saí da memória.

E, hoje, neste dia cinzento e frio,
Nestes tempos obscuros,
Em que tento ter algum prazer,
Pequeno que seja,
Sinto que te esqueci,
Que sigo te esquecendo
Da mesma forma que não sei mais ser feliz
E se, neste momento, choro,
É pela memória que não há,
Pelo vazio imenso a me lembrar
Que te esqueci

E o futuro, este buraco negro,
Que me aparece tão escuro
É que me dá certeza
De que te esqueci,
Pois, nem de mim
Consigo mais lembrar
A partir do momento
Em que te esqueci.


Ilustração: mah206.wordpress.com

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