Saturday, November 09, 2024

MargoTamez outra vez

 

 

Father replays the funeral in Dream #28

Margo Tamez

Shame             forces                        what we denied         into luminosity.

In dream       my father     tells me               my mother’s grieving     

prevents          momentum.

 

He’s projecting thoughts to a screen          for me to read.     

I’m at his private film      of captivity.

 

He’s watching us.    We’re hunched over          heaving the sorrow vomit.

 

Father stands before me

time without fear    suspended    and apart

unafraid of anything   one way or another.

 

“When did they cut it?”                                                       he wants to know

pushing the thought into space                   between my eyes.

 

Raising his pant leg    where the mortician

 

smoothed and stretched the salvage skin     Father used    for padding

his below-knee amputation                        

hovering   inches above the ground                                   glints in his eyes.

 

He doesn’t remember the amputation                                    

in the bending.

 

Father shows me his whole leg.                    Scars

 

mended and smooth.

He is an uncut body again.  Like before the bending place.

Only the graft scars on his thighs remain.

 

He projects: “I feel my leg here Margo  my foot still itches here” Father

points: “in this empty space”     he twirls his fingers       a    slow    spiral.

 

I nod to him:               “I see.  I’ll remember this for you.”

PAPAI REPETE O FUNERAL NO SONHO #28

A vergonha nos força a ver o que negamos à luminosidade.

Em sonho meu pai me conta o luto de minha mãe

prevendo o momento.

 

Ele está projetando pensamentos em uma tela para eu ler.

Estou no filme privado sobre o cativeiro.

 

Ele está nos observando. Estamos curvados e vomitando a tristeza.

 

Papai está diante de mim

num tempo sem medo suspenso e separado

sem medo de nada, de uma forma ou de outra.

 

“Quando eles cortaram?” ele quer saber

empurrando o pensamento para o espaço entre meus olhos.

 

Levantando a perna da calça onde o agente funerário

 

alisou e esticou a pele de resgate que o pai usou como preenchimento

sua amputação abaixo do joelho

pairando a centímetros do chão brilha em seus olhos.

 

Ele não se lembra da amputação

na flexão.

 

Papai me mostra a perna inteira. Cicatrizes

 

remendado e suave.

Ele é um corpo sem cortes novamente. Como antes do local de curvatura.

Restam apenas as cicatrizes do enxerto nas coxas.

 

Ele projeta: “Sinto minha perna aqui Margô, meu pé ainda coça aqui” Papai

nos pontos: “neste espaço vazio” ele gira os dedos numa lenta espiral.

 

Eu aceno para ele: “Eu vejo. Irei lembrar isto para você.”

Ilustração: Chico de Minas Gerais.

No comments: