Father replays the funeral in Dream #28
Margo Tamez
Shame forces what we denied into luminosity.
In dream my father tells me my mother’s grieving
prevents momentum.
He’s projecting thoughts to a screen for me to read.
I’m at his private film of
captivity.
He’s watching us. We’re hunched
over heaving the sorrow vomit.
Father stands before me
time without fear
suspended and apart
unafraid of anything one way or
another.
“When did they cut it?”
he wants to know
pushing the thought into space between my eyes.
Raising his pant leg where the
mortician
smoothed and stretched the salvage skin Father used for padding
his below-knee amputation
hovering inches above the
ground
glints in his eyes.
He doesn’t remember the amputation
in the bending.
Father shows me his whole leg. Scars
mended and smooth.
He is an uncut body again. Like
before the bending place.
Only the graft scars on his thighs remain.
He projects: “I feel my leg here Margo
my foot still itches here” Father
points: “in this empty space”
he twirls his fingers a slow
spiral.
I nod to him: “I
see. I’ll remember this for you.”
PAPAI REPETE O FUNERAL NO
SONHO #28
A vergonha nos força a
ver o que negamos à luminosidade.
Em sonho meu pai me conta
o luto de minha mãe
prevendo o momento.
Ele está projetando
pensamentos em uma tela para eu ler.
Estou no filme privado
sobre o cativeiro.
Ele está nos observando.
Estamos curvados e vomitando a tristeza.
Papai está diante de mim
num tempo sem medo
suspenso e separado
sem medo de nada, de uma
forma ou de outra.
“Quando eles cortaram?”
ele quer saber
empurrando o pensamento
para o espaço entre meus olhos.
Levantando a perna da
calça onde o agente funerário
alisou e esticou a pele
de resgate que o pai usou como preenchimento
sua amputação abaixo do
joelho
pairando a centímetros do
chão brilha em seus olhos.
Ele não se lembra da
amputação
na flexão.
Papai me mostra a perna
inteira. Cicatrizes
remendado e suave.
Ele é um corpo sem cortes
novamente. Como antes do local de curvatura.
Restam apenas as
cicatrizes do enxerto nas coxas.
Ele projeta: “Sinto minha
perna aqui Margô, meu pé ainda coça aqui” Papai
nos pontos: “neste espaço
vazio” ele gira os dedos numa lenta espiral.
Eu aceno para ele: “Eu
vejo. Irei lembrar isto para você.”
Ilustração: Chico de
Minas Gerais.
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