FELICIDAD CLANDESTINA
Fran Bariffi
A veces es un misterio
saber si escribo de verdad
o si los hilos casi incomprensibles de palabras
forman simplemente
un dibujo.
Pero estas últimas tardes
cuando salgo de trabajar
me siento en el café de la esquina y mi única alegría
es este rectángulo de papel y plástico
que compré en la calle Perú
donde pacientemente inscribo marquitas extrañas
como un monje o como un gato
que en los sillones deja escrito
el diario de un animal.
La única vez que lo llevé a una lectura
se rieron de mis maullidos sin sentido
pero yo pienso que no necesito decir nada
para que un cuaderno sea valioso
guardo páginas y páginas de rayas y marquitas
que cuelgo con cinta en las paredes
y son grafitis en persianas de metal
manos rojas de una caverna primitiva
y aunque terminen en cajones polvorientos
como cáscaras secas de una fruta
la emoción de esos dibujos
es un río invisible
de felicidad
FELICIDADE CLANDESTINA
Às vezes é um mistério
saber se escrevo de
verdade
ou se os fios quase
incompreensíveis de palavras
formam simplesmente
um desenho.
Porém nestas últimas
tardes,
quando saio para trabalhar,
sento-me no café da
esquina e minha única alegria
é este retângulo de papel
e plástico
que comprei na Rua Peru,
onde pacientemente
inscrevo marquinhas estranhas
como um monge ou como um
gato
que deixa para trás
um diário animal nos assentos.
A única vez que o levei a
uma leitura,
riram dos meus miados sem
sentido,
porém eu penso que não
preciso dizer nada
para que um caderno seja
valioso.
Guardo páginas e páginas
de linhas e marquinhas
que colo nas paredes
e são grafites em
persianas de metal,
mãos vermelhas de uma
caverna primitiva,
e ainda que terminem em
gavetas empoeiradas
como cascas secas de
frutas,
a emoção desses desenhos
é um rio invisível
de felicidade.
Ilustraçã: Muralzinho de
Ideias.
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