Friday, November 28, 2025

Outra poesia de Fran Bariffi

 


FELICIDAD CLANDESTINA

Fran Bariffi

A veces es un misterio
saber si escribo de verdad
o si los hilos casi incomprensibles de palabras
forman simplemente
un dibujo.
Pero estas últimas tardes
cuando salgo de trabajar
me siento en el café de la esquina y mi única alegría
es este rectángulo de papel y plástico
que compré en la calle Perú
donde pacientemente inscribo marquitas extrañas
como un monje o como un gato
que en los sillones deja escrito
el diario de un animal.
La única vez que lo llevé a una lectura
se rieron de mis maullidos sin sentido
pero yo pienso que no necesito decir nada
para que un cuaderno sea valioso
guardo páginas y páginas de rayas y marquitas
que cuelgo con cinta en las paredes
y son grafitis en persianas de metal
manos rojas de una caverna primitiva
y aunque terminen en cajones polvorientos
como cáscaras secas de una fruta
la emoción de esos dibujos
es un río invisible
de felicidad

FELICIDADE CLANDESTINA

Às vezes é um mistério

saber se escrevo de verdade

ou se os fios quase incompreensíveis de palavras

formam simplesmente

um desenho.

Porém nestas últimas tardes,

quando saio para trabalhar,

sento-me no café da esquina e minha única alegria

é este retângulo de papel e plástico

que comprei na Rua Peru,

onde pacientemente inscrevo marquinhas estranhas

como um monge ou como um gato

que deixa para trás

um diário animal nos assentos.

A única vez que o levei a uma leitura,

riram dos meus miados sem sentido,

porém eu penso que não preciso dizer nada

para que um caderno seja valioso.

Guardo páginas e páginas de linhas e marquinhas

que colo nas paredes

e são grafites em persianas de metal,

mãos vermelhas de uma caverna primitiva,

e ainda que terminem em gavetas empoeiradas

como cascas secas de frutas,

a emoção desses desenhos

é um rio invisível

de felicidade.

Ilustraçã: Muralzinho de Ideias.


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