Thursday, January 28, 2010
Daniel García Helder
Carta debajo del sapo
Daniel García Helder
El sapo común, que con la lengua caza los bichos al vuelo
y salta, chueco, trillando los yuyos tórridos y espoleando
las sombras, pardo, noctámbulo, bufón de la zanja,
debe sin duda su aspecto al sapo singular
del mundo de los arquetipos, que brinca sin hambre ni sed
por la vegetación inmóvil de un jardín modelo
conservado en un clima ideal.
Muy bien, pero el sapo pisapapeles, que no tiene lengua,
no tiene hábitos, voz ni verrugas y además de anuro es capón,
¿a cuál debe el suyo?, ¿o al debérselo a uno lo debe
también al otro?, ¿o no debe su aspecto a uno ni a otro
y se lo debe a un arquetipo diferente?
Como sea, debajo de sus patas de jaspe hay una carta
que acabo de escribir y es movida por la brisa del ventilador;
siendo que no hablo de nada o hablo de cualquier cosa
nadie o cualquiera puede ser su destinatario,
aunque lo más probable es que no vaya al buzón
sino al cesto, donde hay más de la misma especie.
Carta debaixo do sapo
O sapo comum, que com a língua caça os bichos no voo
e salta, ervas daninhas, coaxando uivos tórridos e pulando
sombras, marron, palhaço da trincheira,
deve, sem dúvida, seu aspecto ao sapo singular
do mundo dos arquétipos, que salta sem fome ou sede
pela vegetação imóvel de um jardim modelo
conservado no clima ideal.
Muito bem, porém, o sapo do peso de papel, que não tem língua,
não tem hábitos, voz nem verrugas e também é capão
Qual é a sua? "Ou o dever ser de um serve
também para o outro, ou não deve o seu aspecto um ao outro
e sim deve a um arquétipo diferente?
Enfim, debaixo de suas patas de jaspe há uma carta
que acabo de escrever e é movida pela brisa do ventilador;
sendo que não falo de nada ou falo de qualquer coisa
ninguém ou qualquer um pode ser seu destinatário,
ainda que o mais provável é que não chegue à caixa de correio
e sim ao cesto, onde há mais da mesma espécie.
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