Thursday, March 22, 2018

Outra poesia de José Ángel Valente


EL TEMBLOR               
José Ángel Valente

La lluvia
como una lengua de prensiles musgos
parece recorrerme, buscarme la cerviz, bajar,
lamer el eje vertical,
contar el número de vértebras que me separan
de tu cuerpo ausente.

Busco ahora despacio con mi lengua
la demorada huella de tu lengua
hundida en mis salivas.

Bebo, te bebo
en las mansiones líquidas
del paladar
y en la humedad radiante de tus ingles,
mientras tu propia lengua me recorre
y baja,
retráctil y prensil, como la lengua
oscura de la lluvia.

La raíz del temblor llena tu boca,
tiembla, se vierte en ti
y canta germinal en tu garganta.


O TREMOR

A chuva
como uma língua de preênsil musgos
parece percorrer-me, buscar-me o colo do útero, descer,
lamber o eixo vertical,
contar o número de vértebras que me separam
do teu corpo ausente.

Busco agora lentamente com minha língua
a demorada trilha da tua língua
afundada na minha saliva.

Eu bebo, te bebo
nas mansões líquidas
do paladar
e na umidade radiante de tuas virilhas,
enquanto tua própria língua me percorre
e baixa
retrátil e preênsil, como a língua
escura da chuva.

A raiz do tremor enche tua boca,
treme, se derrama em ti
e canta germinal na tua garganta.

Ilustração: Google Plus.

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