Tuesday, July 29, 2025

Outra vez Gustavo Yuste

 


FUNCIÓN DE TRASNOCHE

Gustavo Yuste 

Veo una foto tuya,
mastico comida descongelada,
se empiezan a apagar las ventanas
de los vecinos.
Mi lámpara de bajo consumo
en medio de la noche:
el faro que necesita la angustia
para desembarcar
y empezar su conquista.

FUNÇÃO NOTURNA

Vejo uma foto tua,

mastigo comida descongelada,

começam a se apagar as janelas

dos vizinhos.

Minha lâmpada de baixo consumo

no meio da noite:

o farol que necessita a angústia

para desembarcar

e começar sua conquista.

Ilustração: Psitto.

Uma poesia de Luigi Di Ruscio

 

 


Luigi Di Ruscio

Con la fine degli umani

i grattacieli si copriranno

improvvisamente di licheni spumosi

gli asfalti inizieranno fioriture

che richiameranno gli insetti più luminosi

nessun gatto

rischierà di venire castrato

nell’universo rimarrà lo splendente ricordo

di essersi visto con l’occhio umano.

 

Com o fim dos humanos,

os arranha-céus se cobrirão

imprevistamente de líquidos espumosos

o asfalto começará a florescer

o que atrairá os insetos mais luminosos

nenhum gato

correrá o risco de vir à ser castrado

no universo permanecerá a esplendorosa memória

de ter se visto com o olho humano.

Ilustração: Leaf Eco.

Uma poesia de Alfredo Lavergne

 


MELANCOLIA

Alfredo Lavergne

Retorno a mi país y llego a otro.
Soy el condenado a buscar...
Esa tierra que especifica mi alma
Esa raíz que no cambia de personalidad
Ese azote de los ojos al cerebro
Ese tiempo testimonial Esa gente que existe en mí
Y mi desesperación
Pasa por calles que tienen su sirena y sirenas.

MELANCOLIA

Retorno ao meu país e chego a outro.
Sou condenado a buscar...
Essa terra que especifica minha alma
Essa raíz que não muda de personalidade
Essa tragédia dos olhos ao cérebro
Esse tempo de testemunho Essa gente que existe em mim
E meu desespero
Passa por ruas que têm sua sirene e sirenes.

Ilustrações-Cópias de Arte.

Monday, July 28, 2025

Opção Única


Não me venha com  a vida real. 

Depois que inventaram o mundo digital

Desisti de viver no baixo-astral.  


Só me interessa o sonho.

Uma poesia de Djuna Barnes

  


I’D HAVE YOU THINK OF ME

Djuna Barnes

As one who, leaning on the wall, once drew

Thick blossoms down, and hearkened to the hum

Of heavy bees slow rounding the wet plum,

And heard across the fields the patient coo

Of restless birds bewildered with the dew.

 

As one whose thoughts were mad in painful May,

With melancholy eyes turned toward her love,

And toward the troubled earth whereunder throve

The chilly rye and coming hawthorn spray-

With one lean, pacing hound, for company.

EU QUERIA QUE VOCÊ PENSASSE EM MIM

Como quem, encostado na parede, certa vez, desenhou

Flores grossas, e ouviu o zumbido

De abelhas pesadas rondando suavemente a ameixeira molhada,

E ouviu através dos campos o arrulho paciente

De pássaros inquietos e perplexos com o orvalho.

 

Como alguém cujos pensamentos eram loucos num maio cheio de dor,

Com olhos melancólicos voltados para o seu amor,

E para a complicada terra onde, sob ela, fervilhavam

O centeio frio e os ramos de espinheiro que se aproximavam-

Com um cão magro, a passo largo, como companhia.

Ilustração: Dreamstime. 

Outro poema de Esdras Parra

 

 

SOBRE QUÉ MUROS APOYARÉ MI CABEZA...

Esdras Parra

¿Sobre qué muros apoyaré mi cabeza?

Mi memoria no retiene aún la imagen de esa

casa cerrada prestada al abismo

un botín arrancado a mi ilusión

ahora me apodero de su gracia

mis brazos no tienen fin

 

¿qué significa para mí el silencio, la apretada mordaza?

 

lo imprevisible no es presa fácil

enfrento, como siempre, una nueva máscara.

SOBRE QUE MUROS APOIAREI MINHA CABEÇA

Sobre que muros apoiarei minha cabeça?

Minha memória não retém ainda a imagem daquela

casa fechada emprestada ao abismo

um botim arrancado da minha ilusão

agora apodero de sua graça

meus braços são infinitos

 

o que significa para mim o silêncio, a apertada mordaça?

 

o imprevisível não é uma presa fácil

enfrento, como sempre, uma nova máscara.

Ilustração: Wondeland in Rave.

Saturday, July 26, 2025

Um poema sobre o escritor de Mario Luzi

 


Mario Luzi

Scrive lui,

                 ripercorre

cioè

l’immemorabile scrittura,

s’immette in quelle tracce

nitide o inselvate,

entra in quella logia,

                                    filtra in quella grafia,

ne segue gli aculei e le volute,

ripete le sue cifre.

                                Scrive

lui scriba

                   il già scritto da sempre

eppure mai finito,

mai detto, detto veramente.

                     Chi suscita quei semi,

chi anima quel firmamento?

                                                   Opera

la sua propria genitura,

                                        si risveglia

a se stesso il morto segno.

L’autore? Non sa niente di sé,

l’autore – Mia è la prova, mio il martirio –

pensa lui che scrive

- o è questa la creazione,

                                                  lui che scrive appunto?

 

Escreve ele,

isto é, retraça

a imemorial escrita,

se intromete nesses traços,

nítidos ou selvagens,

entra nessa lógica,

filtra nessa grafia,

segue seus espinhos e espirais,

repete suas cifras.

Escreve ele,

o escriba,

o que sempre foi escrito,

mas nunca terminado,

nunca dito, verdadeiramente dito.

Quem semeia essas sementes,

quem anima esse firmamento?

Opera

o seu próprio nascimento,

reaviva

o sinal morto para si mesmo.

O autor? Ele nada sabe de si mesmo,

o autor-Minha é a prova, meu o martírio-

pensa aquele que escreve-

ou é esta a criação,

daquele que escreve com precisão?

Ilustração: Blog do Colaborador Golin. 

A HORA MUDA

 


A engrenagem emperrou sem motivo
E a hora que viria ficou parada

O toque esperado do grande relógio
De algo minúsculo ficou cativo.

Apesar de tudo o tempo continuou
E a vida seguindo voou, voou....

(De “Águas Passadas”, Editora Per Se, 2013).

Ilustração: O Globo.

 

Outra Poesia de Olvido García Valdéz

 


GIRASOL, NEGRO PÁRPADO, MULTIPLICADA...
Olvido García Valdéz

Girasol, negro párpado, multiplicada
curva para el deslumbramiento. Somos
sólo cautivos,
presencias dentro de otros
que nos llevan. Allá, muy lejos,
el taxista le dijo: discúlpeme,
la ciudad es muy grande, sólo
manejo por las orillas.

GIRASSOL, PÁLPEBRA NEGRA, MULTIPLICADA

Girassol, pálpebra negra, multiplicada

curva para o deslumbramento. Somos

só cativos,

presenças dentro de outros

que nos levam. Além, muito longe,

o taxista lhe disse: desculpe-me,

a cidade é muito grande, só dirijo

nos arredores.

Ilustração: VTV News.

 

Amor Secreto por William Blake

 


LOVE’S SECRET

William Blake

Never seek to tell thy love,
  Love that never told can be;
For the gentle wind doth move
  Silently, invisibly.

I told my love, I told my love,
  I told her all my heart,
Trembling, cold, in ghastly fears.
  Ah! she did depart!

Soon after she was gone from me,
  A traveller came by,
Silently, invisibly:
  He took her with a sigh.

AMOR SECRETO

Nunca tente falar do seu amor,

Amor que nunca foi falado pode ser;

Pois o vento suave se move

Silenciosamente, invisivelmente.

 

Eu falei ao meu amor, eu falei ao meu amor,

Eu lhe falei com todo o meu coração,

Tremendo, frio, com terríveis medos.

Ah! Ela partiu!

 

Logo depois que ela se afastou de mim,

Um viajante passou,

Silenciosamente, invisivelmente:

Ele levou-a com um suspiro.

Ilustração: Wattpad.

Tuesday, July 22, 2025

Uma poesia de Antonella Anedda

 


VISTA DA UNO SPETTTO

Antonella Anedda

Se l' avesse vista

se avesse visto la sua forma mortale

spalancare stanotte il frigorifero

e quasi entrare con il corpo

in quella navata di chiarore,

muta bevendo latte

come le anime il sangue

spettrale soprattutto a se stessa

assetata di bianco, abbacinata

dall'acciaio e dal ferro

bruciandosi le dita con il ghiaccio

 

avrebbe detto non è lei. Non è

quella che morendo ho lasciato

perché mi continuasse.

 

VISÃO DE UM ESPECTRO

Se ele a tivesse visto

se ele visse a sua forma mortal

teria aberto, esta noite, a geladeira

e quase entraria com o corpo

naquele corredor de luz,

muda bebendo leite

como almas de sangue

espectral especialmente para si mesmo

sedento de branco, deslumbrado

de aço e ferro

queimando seus dedos com gelo

 

ela teria dito que não é ela. Não é

a que eu deixei morrendo

para me continuar.

Ilustração: Critical Hits.

Monday, July 21, 2025

Uma poesia de Olvido García Valdéz

 


OTRO PAÍS, OTRO PAISAJE...

Olvido García Valdéz

Otro país, otro paisaje,
otra ciudad.
Un lugar desconocido
y un cuerpo desconocido,
tu propio cuerpo, extraño
camino que conduce
directamente al miedo.
El cuerpo como otro,
y otro paisaje, otra ciudad;
atardecer ante las piedras
más dulcemente hermosas
que has visto,
piedras de miel como luz.

OUTRO PAÍS, OUTRA PAISAGEM

Outro país, outra paisagem,

outra cidade.

Um lugar desconhecido

e um corpo desconhecido,

teu próprio corpo, estranho

caminho que conduz

diretamente ao medo.

O corpo como outro,

e outra paisagem, outra cidade;

o entardecer diante das pedras

mais docemente formosas

que já viste,

pedras de mel como luz.

Ilustração: Melhores Destinos.

Outra vez Louise Bogan

 

 


KNOWLEDGE

Louise Bogan

Now that I know

How passion warms little

Of flesh in the mould,

And treasure is brittle,-

 

I’ll lie here and learn

How, over their ground,

Trees make a long shadow

And a light sound.

CONHECIMENTO

Agora que eu sei

Como a paixão aquece pouco

Da carne no molde,

E o tesouro é frágil, -

 

Eu me deitarei aqui e aprenderei

Como, sobre seu solo,

As árvores fazem uma longa sombra

E um leve som.

Ilustração: Tripadvisor.

O Encanto do Abismo

 


Teus olhos
Iluminam a madrugada,
Quando a lua prateia o mar, 
Como se fossem estrelas

Que completam o céu...

Tua boca,
que sussurra sonhos
e colhe admiração,
lembra murmúrios de fontes,

Gotas brilhantes,

Brilhos do amanhecer...

Teu corpo,
Tradução da beleza,

Imóvel, 

Dança como as ondas do mar,

Feito o infinito, 
que escapa de definição...

Teu corpo, 
Modelo de perfeição do ser,
é um abismo incontrolável de prazer,
No qual mergulho,

Com a sensação de que vou morrer, 
Todavia sem hesitar nem por um triz:

Nenhum perigo me faz mais feliz!

Ilustração: Club Viagem.

Sunday, July 20, 2025

Uma poesia de Esdras Parra

 


VEO EN MIS SUEÑOS CÓMO EL CUCHILO CORTA O POLVO....

Esdras Parra

Veo en mis sueños cómo el cuchillo corta el polvo
                                         o entra despacio en mi corazón
hay ocasiones en que el mundo pierde sus encantos
entonces tomo el camino que me ha sido vedado
y doy albergue a sus más oscuros secretos.

recibe este cuerpo como si fuera nieve.

 

VEJO NOS MEUS SONHOS COMO A FACA CORTA O PÓ....

Vejo nos meus sonhos como a faca corta o pó

                                      ou entra devagar no meu coração

há ocasiões em que o mundo perde seus encantos

então tomo o caminho que me tem sido vedado

e dou albergue a seus mais obscuros segredos.

 

Recebe este corpo como se fosse neve.

Ilustração: Você na neve.

8°45′43″S 63°54′14″O / 8.76194°S 63.90389° ...

 


Dizem que aqui é o fim do mundo.

Sem nenhum receio digo que não creio.

Os míopes não veem que é o meio.

Não sabem que não há melhor lugar

para observar o mundo se perder

e se afogar na beira mar. 

Aqui não é o meio nem o fim.

É só um lugar selvagem, quente

no qual, felizmente,

é fácil ser feliz,

como em outro qualquer, 

com o amor de uma doce mulher. 


Uma poesia de Louise Bogan

 

THE ALCHEMIST

Louise Bogan

I burned my life, that I might find 
A passion wholly of the mind, 
Thought divorced from eye and bone, 
Ecstasy come to breath alone. 
I broke my life, to seek relief 
From the flawed light of love and grief.

With mounting beat the utter fire 
Charred existence and desire. 
It died low, ceased its sudden thresh.
I found unmysterious flesh-
Not the mind’s avid substance-still
Passionate beyond the will.

O ALQUIMISTA

Eu queimei minha vida para encontrar

Uma paixão inteiramente mental,

Pensamento separado dos olhos e dos ossos,

Êxtase vindo de respirar apenas.

Eu despedaçei minha vida para buscar alívio

Da luz imperfeita do amor e da dor.

 

Com a ascensão, o fogo absoluto

Chamou a existência e o desejo.

Morreu lentamente, cessada sua súbita agitação.

Eu encontrei a carne sem mistério-

Não a substância ávida da mente- ainda

Apaixonada além da vontade.

Ilustração: Lidérica.

Solidão

 


O que há de novo na noite
Nesta longa, doída e decadente noite?
São os anzóis que prendem as sombras do luar
E os cachorros a latir espantando o medo...
Se, ao menos, a água do mar subisse tanto
Que se misturasse com a prata da minha dor.
Se faltasse luz e as velas e os barcos se perdessem
E tudo ficasse negro, imensamente negro
Com os peixes brilhando como estrelas....
Talvez não fitar os teus olhos nesta noite
Não fosse esta vontade imensa e inútil de amor,
Porém, sentado olhando os barcos dançando
Não acredito senão que este é um quadro perfeito
De como se deve pintar a solidão.
Ilustração: Vecteezy.

Gustavo Yuste diz que assim são as coisas

 

 


ASÍ LAS COSAS

Gustavo Yuste 

Mi umbral del dolor
juega al limbo:
cada vez más bajo,
cada vez más cerca del piso.

Creo que en vez de un tiempo
necesitamos una elipsis
que explique y concluya todo por nosotros.

Así las cosas:
la juventud se aleja sin mirar atrás,
pero tampoco para adelante.

ASSIM SÃO AS COISAS

Meu limiar de dor

joga no limbo:

cada vez mais baixo,

cada vez mais perto do piso.

 

Creio que em vez de um tempo

precisamos de elipses

que expliquem e concluam tudo para nós.

 

Assim são as coisas:

a juventude se alheia sem olhar para trás,

porém também não para a frente.

Ilustração: Folha.

Thursday, July 17, 2025

E. E. Cummings e os estranhos se encontrando



E.E. Cummings

if strangers meet

life begins-

not poor not rich
(only aware)
kind neither
nor cruel
(only complete)
i not not you
not possible;
only truthful-
truthfully,once
if strangers(who
deep our most are
selves) touch:
forever
(and so to dark)


se estranhos se encontram

a vida começa -

nem pobre nem rico

(somente consciente)

nem gentil

nem cruel

(somente completa)

eu não não você

não possível;

somente verdadeiro -

verdadeiramente, uma vez

se estranhos (que

profundo somos mais

nós mesmos) se tocam:

para sempre

(e assim tão escuros)

Ilustração: Krea.