Sunday, November 05, 2006

UMA ANTIGA DE PERSIVO REFORMULADA

INTIMIDADE

Aquelas confidências vagas, que me fazia,
Foram só um começo de desejo e gozo
Que nossas peles suadas pressentiam
No meio do calor, da meia-luz e da fumaça.

Havia certa graça nas vozes velozes
Que se misturavam numa babel de preces
Ao desconhecido deus que fez o amor e o álcool
Para a liberação dos instintos mais selvagens

E foi estranho porque o encanto mútuo
Criou uma intimidade impossível num quarto,
Porém ali, em meio ao público, pareceu natural
Tanto que nos beijamos quase automaticamente

Com uma inocência infantil que nos absolveu
De toda maldade que os risos fizeram circular
E pelo olhar tão puro que deu quase me sinto santo
Quase consigo acreditar num ser qualquer

Que programasse, ao acaso, momentos encantados
Nos quais os sorteados, como ali nós éramos,
Pudessem ver que há algo além da falta de sentido
Que permeia toda a loucura que somos e fazemos.

Senti-me tão feliz ao compreender teu pranto silencioso
Em flagrante contraste com o prazer presente
Nos nossos menores gestos e de todos os outros
E também chorei mansinho por tudo ser tão belo e frágil!

1 comment:

Lia Noronha said...

Silivio: esse seu lado romãntico...é encantador!Adorei!Bjus mil