Tua delicadeza é feita de unhas afiadas
que me arranham, cortam
e me desenham o corpo
com linhas e riscos obscuro
s no teu abraço de virgem e de serpente.
Nem tens cuidado com a pele delicada
ou pensas que as forças me acabam;
me sugas com a soberba dos deuses
e a voracidade das piores feras.
Já eras – me dizes –, enquanto as mãos
febris querem extrair mais de onde não há
e a língua e os dentes se põem a passear
com um sorriso de quem há de tirar a última gota.
E só tenho como última lembrança antes do sono
o calor do teu desejo apaixonado e raivoso s
e satisfazendo como pode sobre meu ser inerte
que adormece feliz de ser teu objeto.
Ilustração: Amiga da Leitora.
(De "Poemas Malcomportados", Editora Litteris, 2021).
No comments:
Post a Comment