Wednesday, March 15, 2006

CANÇÃO DO AMOR MAIS TRISTE

É triste. Tudo é triste. E o meu coração,
terra desolada,
Bate descompassado num rumor de solidão.
Todo prazer, toda graça da vida acabou.
Onde estais? Onde estou?
Onde a felicidade de dias tão doces, tão bons
Nos quais ignoramos o significado
da distância e da saudade?
Insone minha cabeça arde
E meu corpo, cansado, sente a falta do teu
E, em tudo, só persiste a triste lembrança
Da imobilidade de teus olhos tristes
E do mais triste adeus.

Tudo me amarga a boca e me desencaminha.
Não me resta, apesar de frágil e melancólico,
Nem as volúpias inúteis das lágrimas.
Os olhos que me seguem,
As pessoas que me cercam
Não percebem o meu sofrer nem a dor
Nem são capazes de entender o amor
Nem os carinhos que abandonei
Contigo, mulher que amei,
E que ainda sonho amar,
Hoje, porém, não posso nem chorar.

A culpa é tua, minha vida. Tua é a culpa.
Como podes assim ser tão maluca
Que amastes a quem não podia amar
Se sabias ainda que pudesse não devia amar.
É tudo triste, mas há esperança, esperança
sempre há
E há de haver, com certeza, outra dança,
Pois feito criança, como por um brinquedo
perdido, choro
E por teu nome, em orações de amor, oro
Com a tristeza dos crentes que perderam a fé
E a tristeza dos amantes
que não podem mais amar.

1 comment:

Lia Noronha said...

Silvio: o amor traz dor...e na poesia encontramos o alento pra ela...sempre!
Bjos de final de semana.