Monday, December 30, 2013

Neruda, uma vez mais


Poema V

Pablo Neruda

Para que tú me oigas
mis palabras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaviotas en las playas.

Collar, cascabel ebrio
para tus manos suaves como las uvas.

Y las miro lejanas mis palabras.
Más que mías son tuyas.
Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.

Ellas trepan así por las paredes húmedas.
Eres tú la culpable de este juego sangriento.

Ellas están huyendo de mi guarida oscura.
Todo lo llenas tú, todo lo llenas.

Antes que tú poblaron la soledad que ocupas,
y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.

Ahora quiero que digan lo que quiero decirte
para que tú las oigas como quiero que me oigas.

El viento de la angustia aún las suele arrastrar.
Huracanes de sueños aún a veces las tumban

Escuchas otras voces en mi voz dolorida.
Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas.
Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme.
Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.

Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras.
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.

Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas.

Poema V

Para que tu me ouças
minhas palavras
se adelgaçam às vezes
como as voltas das gaivotas nas praias .

Colar, cascavel ébrio,
para as tuas mãos suaves como as uvas .

E vejo distante as minhas palavras.
Mais do que minhas são tuas.
Vão trepando na minha velha dor como nas pedras.

Elas trepam assim pelas paredes úmidas .
És tu a culpada deste jogo sangrento.

Elas estão fugindo da minha guarida escura.
Toda cheia de tu, toda cheia.

Antes que tu povoaram a solidão que ocupas,
e elas estão mais acostumados a minha tristeza do que tu.

Agora quero que digam o que quero dizer-te
para que tu ouças como quero que tu ouças.

O vento da angústia ainda as podem arrastar.
Furacões de sonhos ainda, às vezes, podem derrubá-las,

Ouça outras vozes na minha voz dolorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me deixes. Segue-me.
Segue-me, companheira, nesta onda de angústia.

Porém, se vão tingindo com o amor minhas palavras.
Todas o ocupas tu, tudo ocupas.

Vou fazendo de tudo um colar infinito
para as tuas brancas mãos, suaves como uvas.

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