Friday, February 28, 2020

Julio Cortázar, ainda uma vez


BOLERO                                                      


Julio Cortázar

Qué vanidad imaginar
que puedo darte todo, el amor y la dicha,
itinerarios, música, juguetes.
Es cierto que es así:
todo lo mío te lo doy, es cierto,
pero todo lo mío no te basta
como a mí no me basta que me des
todo lo tuyo.

Por eso no seremos nunca
la pareja perfecta, la tarjeta postal,
si no somos capaces de aceptar
que sólo en la aritmética
el dos nace del uno más el uno.

Por ahí un papelito
que solamente dice:

Siempre fuiste mi espejo,
quiero decir que para verme tenía que mirarte.

BOLERO

Que vaidade imaginar
que posso te dar tudo, o amor e a felicidade,
itinerários, música, brinquedos.
É certo que é assim:
tudo meu te dou, é certo,
porém, tudo o meu não te basta
como a mim não basta o que me dá
tudo o teu.

Por isso não seremos nunca
o casal perfeito, o cartão postal,
se não somos capazes de aceitar
que somente na aritmética
o dois nasce do um mais um.
Por aí papelzinho
Que somente diz:

sempre foste o meu espelho,
quero dizer que, para me ver, tinha que te olhar.

Ilustração: Bing.

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