Saturday, October 02, 2021

Uma poesia de María Codes

 


AGRADECIMIENTO

María Codes

Por el lamentable estado del cuello
sangriento se deduce
que ayer hubo festín de buitres.
Una víctima cándida de torpe lengua
sin duda alguna
por no imaginar su despiece
y desamparo.
Ignoraba la mala entraña
el icónico riesgo del deambular
en lo tocante a los campos de reyerta
y la noble labor de guillotina necrófaga.

Suturar la cabeza desmembrada
los flecos del escote
no dar el brazo a torcer
y declarar
con la boca llena de hormigas
que tiernos órganos vigilantes
de mamífero hembra
ofrendarán el cadáver
al voraz apetito público
que muestran los carniceros de mujeres
en mitad de una mano.

No es nimia la tortura
de reconstruirse, trozo a trozo
de acomodar el cigarrillo en la boca
y echar a andar errante en páramos
sin remedio ni pomada
como convicto fantasma holandés
a la busca estéril del resto propio
de la perpetua sombra intolerable.

AGRADECIMENTO

Pelo lamentável estado do pescoço

sangrento se deduz

que ontem houve uma festa dos abutres.

Uma vítima cândida com uma língua torpe

sem dúvida alguma

por não imaginar seu colapso

e desamparo.

Ignorava as entranhas ruins

o risco icônico de vagar

em relação aos campos de briga

e o nobre trabalho da guilhotina necrófaga.

 

Suturando a cabeça desmembrada

as franjas do decote

não dar o braço a torcer

e declarar

com a boca cheia de formigas

que delicados órgãos vigilantes

do mamífero feminino

ofertarão o cadáver

ao voraz apetite público

que mostram os açougueiros das mulheres

em metade de uma mão.

 

A tortura não é trivial

de se reconstruir, peça por peça

para acomodar o cigarro na boca

e ficar vagar errante nos pântanos

sem remédio ou pomada

como convicto fantasma holandês

na busca estéril do próprio descanso

da perpétua sombra intolerável.

Ilustração: O mundo das mensagens.

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