Gema
Santamaría
tengo más de
cien razones para no amarte
y una sola sin
razón para morir por ti.
tengo
todo mi equipaje y, sin embargo, me siento desarropada y con la soledad
revuelta.
soy
una gitana que ha extraviado su bola de cristal y su carruaje.
todos
los relámpagos sobre este viaje solitario.
aquí
estoy de nuevo, con el alma deshilada y el corazón hecho una cáscara de sangre.
tengo
mis zapatos andaderos, unos pantalones sucios
y
un abrigo que no reúne los botones suficientes para cubrirme de este frío.
he
dejado atrás mis verdaderas pertenencias : el sobresalto de mi pecho, la pasión
a tientas de mis dedos y unas cuantas,
encarecidas certezas.
es
otra la mujer que regresa, amarilla y cabizbaja. con las costuras de la piel
mirando hacia fuera, como deben llevarse las prendas para no atraer malos
presagios.
tengo toda la tristeza reunida en estos
ojos ciegos y severos, como mamíferos de agua dulce. todas tus batallas y tus
muertes bañándome en la sábana púrpura donde se reinventan los milagros de las
iglesias.
tengo todo mi equipaje y, sin embargo,
no logro volver a esa mujer sedimentaria que abre sus ojos en la página segunda
del pasaporte. es otra mujer la que regresa; tijereteada, devuelta en un
rompecabezas.
sin ti he perdido mi centro y he
olvidado para siempre mi periferia.
Sala de espera
Tenho mais de cem
razões para não amar-te
e só uma razão
para morrer por ti.
Tenho
toda a minha bagagem e, no entanto, me sinto despreparada e com uma solidão
revoltada.
Sou
uma cigana que perdeu sua bola de cristal e sua carruagem.
todos
os relâmpago sobre esta viagem solitária.
Estou
aqui de novo, com a alma desfiada e o coração feito uma concha feita de sangue.
Tenho
meus sapatos de andarilho, umas calças sujas
e
um casaco que não tem botões suficientes para me cobrir do frio.
Deixei
para trás meus verdadeiros pertences: o sobressalto do meu peito, a paixão
tateando por meus dedos e algumas queridas certezas.
é
outra a mulher que retorna, amarela e cabisbaixa. com as costuras da pele olhando
para fora, como deve levar-se as vestes para evitar atrair maus presságios.
Tenho
toda a tristeza reunida neste olhos cegos e severos, como mamíferos de água
doce. todas as suas batalhas e suas mortes banhando-se na folha roxa onde se
reiventam os milagres das igrejas.
Tenho
toda a minha bagagem e, sem embargo, não consigo voltar aquela mulher sedimentada que abre os seus olhos na segunda página do
passaporte. é uma outra mulher que retorna; retalhada, devolvida num
quebra-cabeça.
sem
ti eu perdi meu centro e fui esquecida para sempre a minha periferia.
Ilustração:
http://economia.uol.com/
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