XI
De
concreto há somente o fato de que sou cruel.
Minha
crueldade vem de que não sinto
pela
vida que se esvai ou modifica
nada
mais do que a indiferença,
quando
muito tédio.
Bebo
como todos bebem.
Amo
como todos amam.
Faço
o que todos fazem,
mas,
não sinto o que todos sentem
nestes
atos.
Tudo,
para mim, são apagados retratos,
pálidas
imagens, pinturas desbotadas
porque
o meu sentir
sente
a inutilidade,
como
meu gosto,
o
prazer me sabe a nada.
XII
Poderia,
quem sabe, buscar emoções mais fortes.
Num
certo momento da vida
me
atraiu o suicídio,
a
cocaína, o mariri, ser ermitão.
Tive
laivos de fazer um grande assalto,
de
sumir, mudar de nome, ser fanático...
Laivos...clarões
de racionalização,
de
vez que, lá bem dentro,
não
havia, em mim, paixão,
nem,
fora o pensamento, desejo de busca
e
buscar algo, no homem, é sua razão
ou,
então, igual a mim, não busca nada
nem
nada sente,
mas,
sem buscar não há como existir,
exceto
se também nada sentir.
XIII
Assim
prossigo neste imenso vazio
sentindo,
a cada dia,
ainda
menos sentir
e
me disponho a rir.
De
qualquer jeito
rir
ou chorar
que
diferença faz?
Só
na inconsciência há satisfação e paz.
XIV
Toda
paz é sem vida.
A
paz é não sentir,
mas,
não o meu não sentir,
que
pensa.
A
paz só há na noite mais imensa
do
que não se soube,
do
que não se sabe,
do
que nunca se saberá
tanto
que ela está mais além
de
mim, de você, do tempo.
A
paz é a resposta mais sabida e ignorada
que,
sem saber, procuro nesta infeliz vida
de
não sentir nada
e
se sentir, se isto for possível,
sentirei
que a paz é a companheira impossível,
a
que nos espera silenciosa, impiedosa e calada,
sabendo
que não há como fugir
de
que sentir, existir e viver é lutar
cultivando
a esperança que não há
de
que do inexorável possamos escapar
até
quando nos faltar o último ar.
Ilustração:
www.mensagens10.com.br96
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