Que jamais conseguirei
dizer tudo
o que penso
me convenço
quando procuro algumas
palavras,
e tenso,
encontro outras
que não sei manipular.
Me falta ar.
Calado, no entanto, não
fico, nem ficarei.
Embora, talvez, em outra
língua
me expressarei
(que, mesmo o português
pode ser vários)
para que não entendam
minhas palavras,
que bem sei,
não agradarão
aos servos, aos néscios,
aos patrocinadores
destes tempos sombrios
e de pessoas
invertebradas.
Nem me esforço
para dizer o que não
merecem ouvir.
Já nem me importo
em usar a ironia,
que os tolos não
conhecem.
Direi apenas
para os que estão mortos
de medo, de falta de
coragem,
imersos no poço mais
profundo
que sempre há voltas
nas coisas deste mundo
e que há horas
em que só em ficar mudo
se diz tudo.
Se o presente é deles.
O futuro é nosso.
Ilustração: Repórter
Sombra.
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