Monday, June 03, 2019

Uma poesia de Silvina Ocampo


 
AL RENCOR                  
 Silvina Ocampo

No vengas, te conjuro, con tus piedras;
con tu vetusto horror con tu consejo;
con tu escudo brillante con tu espejo;
con tu verdor insólito de hiedras.

En aquel árbol la torcaza es mía;
no cubras con tus gritos su canción;
me conmueve, me llega al corazón,
repudia el mármol de tu mano fría.

Te reconozco siempre. No, no vengas.
Prometí no mirar tu aviesa cara
cada vez que lloré sola en tu avara
desolación. Y si de mí te vengas,

que épica sea al menos tu venganza
y no cobarde, oscura, impenitente,
agazapada en cada sombra ausente,
fingiendo que jamás hiere tu lanza.

Entre rosas, jazmines que envenenas,
¿por qué no te ultimé yo en mi otra vida?
Haz brotar sangre al menos de mi herida,
que estoy cansada de morir apenas.

AO RANCOR

Não venha, te conjuro com tuas pedras;
com teu vetusto horror com teu conselho;
com teu escudo brilhante com teu espelho;
com tua verdor insólito de heras.

Naquela árvore é minha a cotovia;
não cubra com teus gritos sua canção;
me move, me chega ao coração,
repudia o mármore da tua mão fria.

Te reconheço sempre. Não, não venha.
Prometi não olhar tua maligna cara
cada vez que chorei só em tua avara
desolação E se de mim te venha

que épica seja, pelo menos, tua vingança
e não covarde, escura, impenitente,
agachado em cada sombra ausente,
fingindo que jamais fere tua lança.

Entre rosas e jardins que envenenas,
porque não te acabei em minha outra vida?
Faz brotar, ao menos, sangue da minha ferida
que estou cansada de morrer apenas.

Ilustração: O Segredo.

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