Saturday, July 05, 2008

DUAS POESIAS DE LETELIER

Teoría de los zapatos

Elías Letelier

Quiero pedir permiso.
¡No quiero molestar a nadie!
Olvídense de mí por un momento:
demos paso a cosas más esenciales.
Ocurre,
por ejemplo,
que siempre me han impresionado los zapatos:
son tan vanidosos como las aceitunas,
y arrogantes como las farmacias;
y aunque yo no estoy de acuerdo,
a veces parecieran que ellos son
lo único valioso que ambula por las calles.
Tiene tanta personalidad como una mueblería;
pasan por tantas partes,
ignorando tantas cosas de los caminos,
que me aterra no saber lo que piensan.
Son tan interesantes sus vidas,
que otro día,
cuando tenga más papel,
apareceré en otra página
para hablarte
de la teoría de los cordones.
¡Muchas gracias!

Silence. Montreal: The Muses Company, 1992
A teoria dos sapatos
Quero pedir permissão.
Não quero aborrecer ninguém!
Esqueça-me por um momento:
como primeiro passo as coisas mais essenciais.
Ocorre, por exemplo,
que sempre me impressionou sapatos:
são tão vaidosos como azeitonas,
e arrogantes como as farmácias;
e embora eu não concorde,
às vezes parece que eles são
a única coisa valiosa que passeia pelas ruas.
Eles têm tanta personalidade como um mobiliário;
passam por tantas partes,
ignorando tantas coisas nos caminhos,
que me aterra saber o que pensam.
Eles são tão interessantes nas suas vidas,
que, outro dia,
quando tiver mais papel,
aparecerei em outra página
para falar-te
sobre a teoria dos cordões.
Obrigado!

Silêncio. Montreal: A Companhia das Musas. 1992.



Mientras estabas durmiendo

a Monique Girard

Cuando pregunté por la noche,
alguien salió corriendo
y gritó.
Tuve miedo.
No podía encontrar tus ojos:
todo estaba cubierto de hojas secas.
Grité:
¡Tráiganme la oscuridad!
Y después que la última luciérnaga
cayera ejecutada por una sandalia de plástico,
sólo vi al humo
colgando de un alambre,
mirando al vacío con estupor.
Una manzana pasó volando
y el aire clandestino, prófugo,
me acarició imitando al rocío
y cantando trajo, cauteloso,
tus ojos que dormían junto a mí.
Silence. Montreal: The Muses Company, 1992.

Enquanto estavas dormindo

Quando perguntei pela noite,
Alguém saiu correndo e gritou.
Teve medo.
Não poderia encontrar teus olhos:
tudo estava coberto de folhas secas.
Gritei:
Tragam-me a escuridão!
E, depois que o último vaga-lume caiu
executado por uma sandália de plástico,
só viram a fumaça
pendurada por um fio,
olhando com estupor para o vazio.
Uma maçã passou voando
e o ar clandestino, evasivo,
me acariciou imitando o orvalho
e cantando trouxe, cauteloso,
teus olhos que dormiam do meu lado.

1 comment:

morenocris said...

Fiz uma adaptação na primeira poesia... rsrs

*Não brigue comigo!

Beijinhos.
Bom domingo.