Sunday, May 24, 2015

A vida nos engole

Hoje,                                
Sentindo a tua ausência mais do que o calor da noite,
Percebo que a vida, como uma gigantesca jiboia, nos engole.
A vida nos engole
De um hausto, com a rapidez de um sopro,
Ou lentamente, nos deixando como deixa, oco,
Sem lirismo, sem amor, sem vontade.
Só este corpo que se mexe,
Como se vivo estivesse,
Para cumprir as obrigações diárias.

É um rito
Ou uma dança inconsequente.
Não sei.
Sei que somente a vida nos engole.
Muitas vezes,
É somente alguém
Que, de repente, desce por um bueiro,
Mas, há sintomas de sumir um quarteirão inteiro,
Bairros, favelas, cidades...

A vida nos engole.
Seja pelo gesto que não fiz
Ou pelo o gesto que você não faz-
Não importa-
A vida nos engole
E, na verdade, não te amo menos
E tu não me amas mais.
E vivemos dizendo adeus
Sem que, na verdade,
Não desejes me perder
Nem te perder desejo.
E não nos falamos
E não mais te beijo
E o tempo do amor parece, agora, tão distante.


É tarde...
Olho pela janela as luzes da cidade...
Os barulhos noturnos, as sirenes
De ambulâncias e polícias
E o som silencioso
Da vida que nos engole
Enquanto, possivelmente, dormes
Para bem cedinho ir trabalhar...

Não tenho sono
Nem vontade de dormir
Nem mais capacidade de sonhar.
Só sei que a vida nos engole.


Ilustração: 2.bp.blogspot.com 

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