Saturday, May 16, 2015

Uma poesia de Raúl Zurita

Anteparaíso                                                                       

Raúl Zurita

Allá va la que fue mi amor, qué más podría decirle
si ya ni mis gemidos conmueven
a la que ayer arrastraba su espalda por las piedras.
Pero hasta las cenizas recuerdan cuando no era
nadie y aún están los muros contra los que llorando
aplastaba su cara mientras al verla

la gente se decía "Vámonos por otro lado"
y hacían un recodo sólo para no pasar cerca de ella
pero yo reparé en ti,
sólo yo me compadecí de esos harapos
y te limpié las llagas y te tapé, contigo hice agua
de las piedras para que nos laváramos
y el mismo cielo fue una fiesta cuando te regalé
los vestidos más lindos para que la gente te respetára.
Ahora caminas por las calles como si nada de esto
hubiese en verdad sucedido
ofreciéndote al primero que pase
Pero yo no me olvido
de cuando hacían un recodo para no verte
y aun tiemblo de ira ante quienes riendo te decían
"ponte de espalda" y tu espalda se hacía un camino
por donde pasaba la gente
Pero porque tampoco me olvido del color del pasto
cuando me querías ni del azul
del cielo acompañando tu vestido nuevo
perdonaré tus devaneos
Apartaré de ti mi rabia y rencor
y si te encuentro nuevamente, en ti me iré amando
incluso a tus malditos cabrones.
Cuando vuelvas a quererme
y arrepentida los recuerdos se te hayan hecho ácido
deshaciendo las cadenas de tu cuello
y corras emocionada a abrazarme
y Chile se ilumine y los pastos relumbren

Anteparaíso

Lá vai aquele que foi o meu amor, o que mais poderia dizer-
se nem mais meus gemidos comovem
a que, ontem, arrastava suas costas pelas pedras.
Mas, até as cinzas se lembram de quando não era
ninguém e estão lá as  paredes contra os quais chorando
esmagavam seus rostos para não vê-la

as pessoas diziam "Vamos por outro lado"
e  faziam curvas apenas para não chegar perto dela
mas, eu reparei em ti,
somente eu me compadeci de teus farrapos
e limpei as feridas e te cobri, e contigo fiz água
das pedras para nos lavarmos
e o mesmo céu foi uma festa quando te presenteei
com os vestidos mais bonitos para que as pessoas te respeitassem.
Agora você anda pelas ruas como se nada disto
tivesse, de verdade, acontecido
oferecendo-se ao primeiro que passar
Mas, eu não esqueço
de quando faziam curva para não ver-te
e ainda tremo de raiva ante aqueles que rindo te diziam
"ponto de passagem" e de suas costas se faziam um caminho
por onde passavam pessoas
Porém, tampouco me esqueci da cor da grama
quando me querias ou do azul
do céu que acompanhava o teu vestido novo
Eu perdoarei os teus flertes
Afastarei de mim a raiva e o rancor
e se te encontrar de novo, vou continuar te amando
e até mesmo aos teus malditos bastardos.
Quando voltares a me querer
e arrependida as lembranças te façam ácida
desfazendo os colares de teu pescoço
e corras emocionada a abraçar-me
o Chile se iluminará e as pastagens brilharão.


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