Raúl
Zurita
Allá va la que fue mi amor, qué más podría decirle
si ya ni mis gemidos conmueven
a la que ayer arrastraba su espalda por las piedras.
Pero hasta las cenizas recuerdan cuando no era
nadie y aún están los muros contra los que llorando
aplastaba su cara mientras al verla
la gente se decía "Vámonos por otro lado"
y hacían un recodo sólo para no pasar cerca de ella
pero yo reparé en ti,
sólo yo me compadecí de esos harapos
y te limpié las llagas y te tapé, contigo hice agua
de las piedras para que nos laváramos
y el mismo cielo fue una fiesta cuando te regalé
los vestidos más lindos para que la gente te
respetára.
Ahora caminas por las calles como si nada de esto
hubiese en verdad sucedido
ofreciéndote al primero que pase
Pero yo no me olvido
de cuando hacían un recodo para no verte
y aun tiemblo de ira ante quienes riendo te decían
"ponte de espalda" y tu espalda se hacía
un camino
por donde pasaba la gente
Pero porque tampoco me olvido del color del pasto
cuando me querías ni del azul
del cielo acompañando tu vestido nuevo
perdonaré tus devaneos
Apartaré de ti mi rabia y rencor
y si te encuentro nuevamente, en ti me iré amando
incluso a tus malditos cabrones.
Cuando vuelvas a quererme
y arrepentida los recuerdos se te hayan hecho ácido
deshaciendo las cadenas de tu cuello
y corras emocionada a abrazarme
y Chile se ilumine y los pastos relumbren
Anteparaíso
Lá vai aquele que foi o meu
amor, o que mais poderia dizer-
se nem mais meus gemidos
comovem
a que, ontem, arrastava suas
costas pelas pedras.
Mas, até as cinzas se lembram
de quando não era
ninguém e estão lá as paredes contra os quais chorando
esmagavam seus rostos para não
vê-la
as pessoas diziam "Vamos
por outro lado"
e faziam curvas apenas para não chegar perto
dela
mas, eu reparei em ti,
somente eu me compadeci de teus
farrapos
e limpei as feridas e te cobri,
e contigo fiz água
das pedras para nos lavarmos
e o mesmo céu foi uma festa
quando te presenteei
com os vestidos mais bonitos
para que as pessoas te respeitassem.
Agora você anda pelas ruas como
se nada disto
tivesse, de verdade, acontecido
oferecendo-se ao primeiro que
passar
Mas, eu não esqueço
de quando faziam curva para não
ver-te
e ainda tremo de raiva ante
aqueles que rindo te diziam
"ponto de passagem" e
de suas costas se faziam um caminho
por onde passavam pessoas
Porém, tampouco me esqueci da
cor da grama
quando me querias ou do azul
do céu que acompanhava o teu
vestido novo
Eu perdoarei os teus flertes
Afastarei de mim a raiva e o
rancor
e se te encontrar de novo, vou
continuar te amando
e até mesmo aos teus malditos
bastardos.
Quando voltares a me querer
e arrependida as lembranças te
façam ácida
desfazendo os colares de teu pescoço
e corras emocionada a
abraçar-me
o Chile se iluminará e as pastagens
brilharão.
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