A Clarirú me pede, num comentário, para explicar um poema de Neruda. Tenho uma meia explicação. Para mim (que só ele sabe o que escreveu) a poesia dele me soa como uma memória imprecisa de um amor inesquecível, algo que, mesmo dissolvido pelo tempo, ainda dói, um amor, amor de verdade, enfim o qual não se pode viver, mas, não se pode também, enquanto houver vida, esquecer e, por isto mesmo, dói e é motivo para a poesia. É o que posso dizer e, numa homenagem a ela e ao grande poeta, fazer uma pobre, mas, o mais fiel possível tradução.
Para
nacer he nacido
Pablo Neruda
UN AMOR
Por
ti junto a los jardines recién florecidos me duelen los perfumes de la
primavera.
He
olvidado tu rostro, no recuerdo tus manos, ¿cómo besaban tus labios?.
Por
ti amo las blancas estatuas dormidas en los parques, las blancas estatuas que
no tienen voz ni mirada.
He
olvidado tu voz, tu voz alegre, he olvidado tus ojos.
Como
una flor a su perfume, estoy atado a tu recuerdo impreciso. Estoy cerca del
dolor como una herida, si me tocas me dañarás irremediablemente.
Tus
caricias me envuelven comos las enredaderas a los muros sombríos.
He
olvidado tu amor y sin embargo te adivino detrás de todas las ventanas.
Por
ti me duelen los pesados perfumes del estío: por ti vuelvo a acechar los signos
que precipitan los deseos, las estrellas en fuga, los objetos que caen.
Para nascer
nasci
Pablo Neruda
Um amor
Por
ti junto aos jardins recém floridos me doem os perfumes da primavera.
Já
esqueci o teu rosto, não recordo tuas mãos, como beijavam os teus lábios?.
Por
ti amo as brancas estátuas dormidas nos parques, as brancas estátuas que não
têm tua voz nem teu olhar.
Esqueci
a tua voz, a tua voz feliz, me esqueci de teus olhos.
Como
uma flor a seu perfume, estou atado à tua memória imprecisa. Estou próximo da dor
como uma ferida, se me tocas me machucarás irremediavelmente.
Tuas
carícias me envolvem como as trepadeiras aos muros escuros.
Esqueci
o teu amor e, sem embargo, te adivinho por trás de todas as janelas.
Por
ti me doem os perfumes pesados de verão: por ti volto a perseguir os signos
que precipitam os desejos, as estrelas em fuga, os objetos que caem.
Ilustração:
blogdalingerie.com.br
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