Saturday, February 07, 2015

E mais uma poesia de Pablo Neruda

ES COMO UNA MAREA                                                            

Pablo Neruda

Es como una marea, cuando ella clava en mí
sus ojos enlutados,
cuando siento su cuerpo de greda blanca y móvil
estirarse y latir junto al mío,
es cómo una marea, cuando ella está a mi lado.

He visto tendido frente a los mares del Sur,
arrollarse las aguas y extenderse
inconteniblemente,
fatalmente
en las mañanas y al atardecer.

Agua de las resacas sobre las viejas huellas,
sobre los viejos rastros, sobre las viejas cosas,
agua de las resacas que desde las estrellas
se abre como una inmensa rosa,
agua que va avanzando sobre las playas como
una mano atrevida debajo de una ropa,
agua internándose en los acantilados,
agua estrellándose en las rocas,
agua implacable como los vengadores
y como los asesinos silenciosa,
agua de las noches siniestras
debajo de los muelles como una vena rota,
como el corazón del mar
en una irradiación temblorosa y monstruosa.

Es algo que me lleva desde adentro y me crece
inmensamente próximo, cuando ella está a mi lado,
es cómo una marea rompiéndose en sus ojos
y besando su boca, sus senos y sus manos.

Ternura de dolor, y dolor de imposible,
ala de los terribles deseos,
que se mueve en la noche de mi carne y la suya
con una aguda fuerza de flechas en el cielo.

Algo de inmensa huida,
que no se va, que araña adentro,
algo que en las palabras cava tremendos pozos,
algo que contra todo se estrella, contra todo,
como los prisioneros contra los calabozos!

Ella, tallada en el corazón de la noche,
por la inquietud de mis ojos alucinados:
ella, grabada en los maderos del bosque
por los cuchillos de mis manos,
ella, su goce junto al mío,
ella, sus ojos enlutados,
ella, su corazón, mariposa sangrienta
que con sus dos antenas de instinto me ha tocado!

No cabe en esta estrecha meseta de mi vida!
Es como un viento desatado!

Si mis palabras clavan apenas como agujas
debieran desgarrar como espadas o arados!

Es como una marea que me arrastra y me dobla,
es como una marea, cuando ella está a mi lado!


É como uma maré

É como uma maré, quando ela crava em mim
seus olhos tristonhos,
quando sinto o seu corpo de giz branco e móvel
esticar-se e palpitar junto ao meu,
é como uma maré, quando ela está comigo.

Já a vi estirada frente aos mares do Sul,
Arrojar-se nas águas, estender-se
incontívelmente,
fatalmente
nos amanheceres e entardeceres.

Água das ressacas sobre as velhas trilhas,
sobre os velhos rastros, sobre as velhas coisas,
água das ressacas que desde as estrelas
se abre como uma imensa rosa,
água que vai avançando sobre as praias
como uma mão atrevida sob a roupa,
água internando-se nas falésias,
água estalando-se sobre rochas,
água implacável como vingadores
e, como os assassinos, silenciosas,
Água das noites sinistras
debaixo  dos molhes como uma veia aberta,
como o coração do mar
num tremor e irradiação monstruosa.

É algo que me leva a partir de dentro e me cresce
imensamente próximo, quando ela está ao meu lado,
é algo como uma maré rompendo-se em seus olhos
e beijando sua boca, seus seios e suas mãos.

Ternura de dor, e dor impossível,
asa dos terríveis desejos,
que se move na noite da minha carne e na dela
com a aguda força de setas no céu.

Algo de imensa fuga,
que não se vai, que arranha dentro,
algo que nas palavras escava terríveis poços,
algo que contra tudo se choca, contra todos,
como os prisioneiros contra os calabouços!

Ela, talhada no coração da noite,
pela inquietação dos meus olhos alucinados:
ela, registrada nas árvores da floresta
pelas facas de minhas mãos,
ela, seu gozo junto ao meu,
ela, seus olhos tristonhos,
ela, seu coração, borboleta sangrenta
que com as suas duas antenas de instinto me tocaram!

Não cabe neste platô estreito da minha vida!
É como um vento desatado!

Se as minhas palavras apenas perfuram como agulhas
devem rasgar como espadas ou arados!

É como uma maré que me arrasta e me dobra,
é como uma maré, quando ela está ao meu lado!


Ilustração: www.sitedecuriosidades.com

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