Sunday, February 22, 2015

Mais uma poesia de Miguel Hernandez

 
Me sobra el corazón

Miguel Hernandez


Hoy estoy sin saber yo no sé cómo,
hoy estoy para penas solamente,
hoy no tengo amistad,
hoy sólo tengo ansias
de arrancarme de cuajo el corazón
y ponerlo debajo de un zapato.

Hoy reverdece aquella espina seca,
hoy es día de llantos de mi reino,
hoy descarga en mi pecho el desaliento
plomo desalentado.

No puedo con mi estrella.
Y busco la muerte por las manos
mirando con cariño las navajas,
y recuerdo aquel hacha compañera,
y pienso en los más altos campanarios
para un salto mortal serenamente.

Si no fuera ¿por qué?… no sé por qué,
mi corazón escribiría una postrera carta,
una carta que llevo allí metida,
haría un tintero de mi corazón,
una fuente de sílabas, de adioses y regalos,
y ahí te quedas, al mundo le diría.

Yo nací en mala luna.
Tengo la pena de una sola pena
que vale más que toda la alegría.

Un amor me ha dejado con los brazos caídos
y no puedo tenderlos hacia más.
¿No veis mi boca qué desengañada,
qué inconformes mis ojos?

Cuanto más me contemplo más me aflijo:
cortar este dolor ¿con qué tijeras?

Ayer, mañana, hoy
padeciendo por todo
mi corazón, pecera melancólica,
penal de ruiseñores moribundos.

Me sobra corazón.

Hoy, descorazonarme,
yo el más corazonado de los hombres,
y por el más, también el más amargo.

No sé por qué, no sé por qué ni cómo
me perdono la vida cada día.

De “Otros poemas”

Me sobra o coração 

Hoje estou sem saber, não sei como,
hoje estou apenas triste tão somente,
Hoje não tenho amizades,
Hoje só tenho um desejo
de rasgar meu coalhado coração
e colocá-lo sob um sapato.

Hoje reverdece aquele espinho seco,
Hoje é dia de prantos em meu reino,
hoje derrama-se em meu peito o desalento
um desalento de chumbo.

Não posso com a minha estrela.
E procuro a morte pelas mãos
olhando com carinho para as facas,
e recordo do machado companheiro
e penso na maior torre de sino
para um salto mortal.

Se não fosse por quê? ... Não sei por que,
meu coração escreveria uma última carta
uma carta que carrego ali metida,
que faria um tinteiro do meu coração,
uma fonte de sílabas, e de adeuses, presentes,
e aí ficas, ao mundo dirias.

Nasci numa lua má.
Tenho a pena de uma só  pena
que vale mais do que toda a alegria.

Um amor me deixou com os braços caídos
e eu não posso estendê-los mais.
Não vê na minha boca quanto desengano,
quão infelizes são meus olhos?

Quanto mais me contemplo, mais me aflijo:
cortar esta dor com que tesoura?

Ontem, amanhã, hoje
todos sofrem
meu coração, aquário de melancolia
varal de rouxinóis moribundos.

Me sobra coração.
Hoje, eu, o de maior coração entre os homens,
e, por isto também, o mais amargo.

Eu não sei por que, não sei por que ou como
me perdoo por minha vida todos os dias.

De "Outros Poemas"

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