CONTRA LA MUERTE
Giuseppe Ungaretti
Me
arranco las visiones y me arranco los ojos cada día que pasa.
No
quiero ver ¡no puedo! ver morir a los hombres cada día
Prefiero
ser de piedra, estar oscuro,
a
soportar el asco de ablandarme por dentro y sonreír.
a
diestra y a siniestra con tal de prosperar en mi negocio.
No
tengo otro negocio que estar
aquí
diciendo la verdad
en
mitad de la calle y hacia todos los vientos:
la
verdad de estar vivo, únicamente vivo,
con
los pies en la tierra y el esqueleto libre en este mundo.
¿Qué
sacamos con eso de saltar hasta el sol con nuestras máquinas
a la velocidad del pensamiento, demonios: qué
sacamos
con volar más allá del infinito
si seguimos muriendo sin esperanza alguna de
vivir
fuera
del tiempo oscuro?
Dios
no me sirve. Nadie me sirve para nada.
Pero
respiro, y como, y hasta duermo
pensando
que me faltan unos diez o veinte años para irme
de
bruces, como todos, a dormir en dos metros de cemento allá abajo.
No
lloro, no me lloro. Todo ha de ser así como ha de ser,
pero
no puedo ver cajones y cajones
pasar,
pasar, pasar, pasar cada minuto
llenos
de algo, rellenos de algo, no puedo ver
todavía
caliente la sangre en los cajones.
Toco
esta rosa, beso sus pétalos, adoro
la
vida, no me canso de amar a las mujeres: me alimento
de
abrir el mundo en ellas. Pero todo es inútil,
porque
yo mismo soy una cabeza inútil
lista
para cortar,
por
no entender qué es eso
de
esperar otro mundo de este mundo.
Me
hablan del Dios o me hablan de la Historia. Me río
de
ir a buscar tan lejos la explicación del hambre
que
me devora, el hambre de vivir como el sol
en
la gracia del aire, eternamente.
Contra a morte
Arranco-me
as visões e os olhos cada dia que passa.
Não
quero ver – não posso! – ver morrerem os homens a cada dia.
Prefiro
ser de pedra, estar na escuridão,
a
suportar o nojo de abrandar-me por dentro e sorrir
a
torto e a direito como meio de prosperar em meu negócio.
Não
tenho outro negócio senão estar
aqui
dizendo a verdade
no
meio da rua e para todos os ventos:
a
verdade de estar vivo, unicamente vivo,
com
os pés na terra e o esqueleto livre neste mundo.
O
que ganhamos com isto de saltar até o sol com nossas máquinas
à
velocidade do pensamento. Demônios! O que ganhamos
com
o voar além do infinito
se
seguimos morrendo sem esperança alguma de viver
fora
deste tempo obscuro?
Deus
não me serve. Ninguém me serve para nada.
Porém
respiro. E como. E até durmo
pensando
que me faltam uns dez ou vinte anos para ir-me
de
bruços, como todos, a dormir sob dois metros de cimento lá embaixo.
Não
choro – não mesmo! Tudo há de ser como há de ser,
porém,
não posso ver caixões e mais caixões
passarem,
passarem, passarem, a cada minuto
cheios
de algo, recheados de algo, não posso ver
ainda
quente o sangue nos caixões.
Toco
esta rosa, beijo suas pétalas, adoro
a
vida, não me canso de amar as mulheres: me alimento
de
abrir o mundo nelas. Porém, tudo é inútil!
Pois,
eu mesmo sou uma cabeça inútil
pronta
para ser cortada
por
não entender o que é isto
de
ter que esperar outro mundo neste mundo.
Falam-me
do Deus ou da História. Rio-me
de
irem buscar tão longe a explicação da fome
que
me devora, a fome de viver como o sol
na
graça do ar, eternamente.
Ilustração:
donttouchmymoleskine.com
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