Wednesday, February 18, 2015

Uma poesia de Giuseppe Ungaretti



CONTRA LA MUERTE

Giuseppe Ungaretti

Me arranco las visiones y me arranco los ojos cada día que pasa.
No quiero ver ¡no puedo! ver morir a los hombres cada día
Prefiero ser de piedra, estar oscuro,
a soportar el asco de ablandarme por dentro y sonreír.
a diestra y a siniestra con tal de prosperar en mi negocio.

No tengo otro negocio que estar
aquí diciendo la verdad
en mitad de la calle y hacia todos los vientos:
la verdad de estar vivo, únicamente vivo,
con los pies en la tierra y el esqueleto libre en este mundo.

¿Qué sacamos con eso de saltar hasta el sol con nuestras máquinas
 a la velocidad del pensamiento, demonios: qué sacamos
 con volar más allá del infinito
 si seguimos muriendo sin esperanza alguna de vivir
fuera del tiempo oscuro?

Dios no me sirve. Nadie me sirve para nada.
Pero respiro, y como, y hasta duermo
pensando que me faltan unos diez o veinte años para irme
de bruces, como todos, a dormir en dos metros de cemento allá abajo.

No lloro, no me lloro. Todo ha de ser así como ha de ser,
pero no puedo ver cajones y cajones
pasar, pasar, pasar, pasar cada minuto
llenos de algo, rellenos de algo, no puedo ver
todavía caliente la sangre en los cajones.

Toco esta rosa, beso sus pétalos, adoro
la vida, no me canso de amar a las mujeres: me alimento
de abrir el mundo en ellas. Pero todo es inútil,
porque yo mismo soy una cabeza inútil
lista para cortar,
por no entender qué es eso
de esperar otro mundo de este mundo.

Me hablan del Dios o me hablan de la Historia. Me río
de ir a buscar tan lejos la explicación del hambre
que me devora, el hambre de vivir como el sol  
en la gracia del aire, eternamente.

Contra a morte

Arranco-me as visões e os olhos cada dia que passa.
Não quero ver – não posso! – ver morrerem os homens a cada dia.
Prefiro ser de pedra, estar na escuridão,
a suportar o nojo de abrandar-me por dentro e sorrir
a torto e a direito como meio de prosperar em meu negócio.

Não tenho outro negócio senão estar
aqui dizendo a verdade
no meio da rua e para todos os ventos:
a verdade de estar vivo, unicamente vivo,
com os pés na terra e o esqueleto livre neste mundo.

O que ganhamos com isto de saltar até o sol com nossas máquinas
à velocidade do pensamento. Demônios! O que ganhamos
com o voar além do infinito
se seguimos morrendo sem esperança alguma de viver
fora deste tempo obscuro?

Deus não me serve. Ninguém me serve para nada.
Porém respiro. E como. E até durmo
pensando que me faltam uns dez ou vinte anos para ir-me
de bruços, como todos, a dormir sob dois metros de cimento lá embaixo.

Não choro – não mesmo! Tudo há de ser como há de ser,
porém, não posso ver caixões e mais caixões
passarem, passarem, passarem, a cada minuto
cheios de algo, recheados de algo, não posso ver
ainda quente o sangue nos caixões.

Toco esta rosa, beijo suas pétalas, adoro
a vida, não me canso de amar as mulheres: me alimento
de abrir o mundo nelas. Porém, tudo é inútil!
Pois, eu mesmo sou uma cabeça inútil
pronta para ser cortada
por não entender o que é isto
de ter que esperar outro mundo neste mundo.

Falam-me do Deus ou da História. Rio-me
de irem buscar tão longe a explicação da fome
que me devora, a fome de viver como o sol
na graça do ar, eternamente.

Ilustração: donttouchmymoleskine.com


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