Saturday, August 15, 2015

Outra poesia de Margareth Atwood

TRUE STORIES                                                                 
Margareth Atwood

I

Don't ask for the true story;
why do you need it?

It's not what I set out with,
or what I carry.

What I'm sailing with,
a knife, blue fire,
luck, a few good words 
that still work, and the tide.

II

The true story was lost
on the way down to the beach; it's something 

I never had, that black tangle
of branches in a shifting light,

my blurred footprints 

filling with salt

water, this handful
of tiny bones, this owl's kill.
a moon, crumpled papers, a coin,
the glint of an old picnic,
the hollows made by lovers 
in the sand a hundred

years ago: no clue.

III

The true story lies
among the other stories,
a mess of colors, like jumbled clothing,
thrown off or away,

like hearts on marble, like syllables, like 
butchers' discards.

The true story is vicious
and multiple and untrue
after all. Why do you 
need it? Don't ever

ask for the true story.

HISTÓRIAS REAIS

I

Não me pergunte pela história real,
por que a queres?

não é por onde começo
nem o que levo comigo.

nem o que levo navegando,
uma faca, um fogo azul,

sorte, duas ou três palavras boas
que, todavia, funcionam, e a maré.

II

A história real está perdida
no caminho na praia, é alguma coisa

que nunca tive, este negro emaranado
de ramos sob uma luz cambiante,
minhas pegadas borradas
enchendo-se de água

salgada, este punhado
de pequenos ossos, esta caçada de corujas;
uma lua, papéis amassados, uma moeda,
o resplendor de um velho piquenique,
os buracos que os amantes
deixaram feitos na areia 

cem anos: nem ideia.

III

A história real está
entre as outras histórias,
uma confusão de cores, como roupa enrolada,
tirada ou esparramada,

como os corações sobre o mármore, como as sílabas
como as sobras do açougueiro.

A história real é mesquinha
e múltipla e falsa
depois de tudo. ¿Para que 
a queres? Nunca me perguntes

pela historia real.

Ilustração: produto.mercadolivre.com.br

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