Friday, September 01, 2017

Uma poesia de Valery Larbaud




Le don de soi-même

Valery Larbaud

Je m'offre à chacun comme sa récompense ;
Je vous la donne même avant que vous l'ayez méritée.

Il y a quelque chose en moi,
Au fond de moi, au centre de moi,
Quelque chose d'infiniment aride
Comme le sommet des plus abruptes montagnes ;
Quelque chose de comparable au point mort de la rétine,

Et sans écho,
Et qui pourtant voit et entend ;
Un être ayant une vie propre, et qui, cependant,
Vit toute ma vie, et écoute, impassible,
Tous les bavardages de ma conscience.

Un être fait de néant, si c'est possible,
Insensible à mes souffrances physiques,
Qui ne pleure pas quand je pleure,
Qui ne rit pas quand je ris,
Qui ne rougit pas quand je commets une action honteuse,
Et qui ne gémit pas quand mon coeur est blessé ;
Qui se tient immobile et ne donne pas de conseils,
Mais semble dire éternellement :
"Je suis là, indifférent à tout".

C'est peut-être du vide comme est le vide,
Mais si grand que le Bien et le Mal ensemble
Ne le remplissent pas.
La haine y meurt d'asphyxie,
Et le plus grand amour n'y pénètre jamais.

Prenez donc tout de moi : le sens de mes poèmes,
Non ce qu'on lit, mais ce qui paraît au travers malgré moi :
Prenez, prenez, vous n'avez rien.
Et où que j'aille, dans l'univers entier,
Je rencontre toujours,
Hors de moi comme en moi,
L'irremplissable Vide,
L'inconquérable Rien.


O DOM DE SI MESMO

Me ofereço a cada um como sua recompensa;
Me dou inclusive antes de que hajam merecido.

Há algo em mim,
No fundo de mim, no centro de mim,
Algo infinitamente árido
Como o cume das altas montanhas;
Algo comparável ao ponto morto das retinas,
E sem eco,
E que, sem embargo, se vê e ouve;
Um ser com vida própria, ao qual, independente,
Vive toda minha vida e escuta, impassível,
todos os rodeios de minha consciência.

Um ser feito de nada, se fosse possível,
Insensível aos meus sofrimentos físicos,
que não chora quando choro,
Que não ri quando rio,
Que não se envergonha quando cometo uma ação vergonhosa,
E que não geme quando meu coração está ferido;
Que fica imóvel e não dá conselhos.
Porém, parece dizer eternamente:
"Estou aqui, indiferente a tudo."

É, quem sabe vazio como o é o vácuo,
Porém, tão grande que o Bem e o Mal juntos
Não o preenchem.
O ódio morre aí de asfixia,
E aí o amor maior não penetra nunca.
Tome, portanto tudo de mim: o sentido destes poemas,
Não o que se lê, sim o que se fala através mim para o meu pesar:
Toma, toma, não tens nada.
E aonde fores, no universo inteiro,
Encontro sempre,
Fora de mim como em mim,
O irreparável Vácuo,
O inconquistável Nada.


Ilustração: Nexo Jornal. 

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