Friday, March 22, 2019

Outra poesia de Zéno Bianu


Langue sur langue                                                    
(Sur les « épiphanies » de Claudine Bertrand)

Zéno Bianu 

abandonne
le crépuscule

laisse sombrer ta voix
loin des dieux jaloux

offre-moi ta pénombre

la mort
ne vient jamais du dehors

tu la gardes en toi
comme un continent englouti

tu cherches la patine
pas la brillance
infatigable éternité

l’espace d’une naissance infinie
une vraie respiration

Dieu est un bébé qui dort

confiance
confiance illimitée
dans l’instant

demain
c’est toujours la mort

laissons-nous habiter
soyons traversés
devenons enfin poreux

les tombeaux sont toujours vides
pour les enfants des anges

préfère le monde
c’est un diamant fiévreux

où tout est vrai vertige

où tu es la seule à lire l’univers

je marche
en lisière de tes mots

c’est bien le bois des souffles
je le reconnais

où l’on vient s’habiller de voix
pour tenir le monde

où tu cherches
ton noyau de révolte

pour frémir juste
retentir tranchant

lumineux douloureux
lumineux douloureux

la nuit se lève
tu dis

la griffe de la parole
le sexe de la voix

tu glisses
à l’intérieur d’un mot

tu vois
la naissance du monde

il y a une brèche
dans ton visage

une présence tangible
loin des simulacres

une brèche
qui me révèle

je prends ton ciel
comme une main tendue

je te désaveugle
j’arrête ton compte à rebours

je te vois

tu prends appui
sur la terre

avec tes mains de nuit
tes mots viennent à ma bouche

LÍNGUA SOBRE A LÍNGUA 

abandona
o crepúsculo

deixe sua voz sumir
longe dos deuses ciumentos

me oferece sua penumbra

a morte
nunca vem de fora

tu a guardas em ti
como um continente afundado

tu procuras a pátina
não o brilho
da eternidade incansável

o espaço de um nascimento infinito
uma verdadeira respiração

Deus é um bebê dormindo

confiança
confiança ilimitada
no instante

amanhã
é sempre a morte

deixe-nos viver
vamos passar
enfim tornar-se porosos

as tumbas estão sempre vazias
para os meninos dos anjos

prefira o mundo
é um diamante febril

onde tudo é uma verdadeira vertigem

onde és o único a ler o universo

Eu ando
nas margens de suas palavras

aquele bosque das respirações
eu o reconheço

onde viemos nos vestir em vozes
para sustentar o mundo

onde tu buscas
teu núcleo de rebeldia

para estremecer justo
como um som afiado

brilhante doloroso
brilhante doloroso

chega a noite
tu dizes

a garra do discurso
o sexo da voz

tu deslizas
dentro de uma palavra

o nascimento do mundo

há uma brecha
em teu rosto

uma presença tangível
longe dos simulacroa

uma brecha
que me revela

tomo o teu céu
como uma mão estendida

ponho fim a tua cegueira
detenho tua contagem regressiva

te vejo
encontro o teu apoio
sobre a  terra
com tuas mãos de noite

tuas palavras vêm à minha boca

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