Tuesday, November 22, 2016

A SORTE DA PATA DE COELHO

Muitas vezes, quando me faltava fé,   
me apoiei, com convicção,
na minha pata de coelho,
uma efetiva proteção,
que, nunca, deu catolé.
Até que, numa atitude doidivana,
cai, cego, alucinado, de paixão
pela negona Severina
que cozinhava com capricho
e fazia amor como um bicho.
Ela, por me deixar meio inerte,
foi minando minhas forças tão solerte,
com tanto ardor e carne dura,
que senti o gosto da rapadura
que é doce, mas, não é mole.
Entre feijoadas e rocambole
enfiei as dívidas na minha vida
e o gosto da amargo da escassez
na minha carteira se implantou de vez.
Pensei que não havia de ser nada
segurando a pata de coelho amada
que não haveria de me faltar.
Estranhamente tudo deu errado.
Fui ficando, cada vez mais, ferrado
E mais de dez anos se foram em aflição:
dinheiro curto, problemas, preocupação.
E como não surgiu nenhuma solução
me convenci ser  a pata grande fraude.
Até pedi a Santo Expedito que me ajude;
rezei, fiz novenas, confessei os pecados
e, entre os troços abandonados,
achando a pata de coelho, joguei fora.
Até me lembrei, com uma lógica perfeita,
de como dita cuja havia sido feita
que só podia mesmo ser contrafação.
Afinal a pata ao coelho não deu sorte,
de vez que para servir de talismã,
não tinha sido de uma forma sã,
pois, havia lhe custado a morte. 

Ilustração: jhdias

1 comment:

Adolescendo em Verso & Prosa said...

Bem humorada apresentação...abraços carinhosos meus.