O
governador decretou calamidade pública.
O
prefeito soltou a alcatéia de fiscais,
a Polícia Militar em peso vem nos fiscalizar
e
não posso trabalhar mais.
O
doutor em ciências políticas,
da
própria sombra com medo,
me
aponta o dedo:
-Fique
em casa!
O
dono, no Ecoville Park, da melhor mansão
me
recrimina:
-Não
seja sem noção.
Até
a filhinha do ex-patrão, uma menina,
me
chama atenção por trabalhar
ameaçando me dedurar.
Não falta nem um estudante de esquerda
para dizer que se não sou suicida
sou genocida.
E
bradam os apresentadores e artistas de televisão:
-Fique
em casa!
O
pequeno dilema em que me vejo,
nada original,
é
que, contra a necessidade e até o desejo,
nos oprime o espaço da residência, quase uma miniatura,
para sete almas. E a maior desventura,
que me tortura;
a
dispensa quase vazia e nenhum capital.
Assim,
na pandemia, a escolha me consome:
Morrer
de covid-19 ou morrer de fome!
Ilustração: Ipu Noticias.
(Do livro inédito "Cem Poemas em Cem Dias", escrito durante a pandemia).
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