Monday, April 30, 2018

Outra poesia de Gerardo Diego



NO VERTE

Gerardo Diego

Un día y otro día y otro día.
No verte.

Poderte ver, saber que andas tan cerca,
que es probable el milagro de la suerte.
No verte.

Y el corazón y el cálculo y la brújula,
fracasando los tres. No hay quien te acierte.
No verte.

Miércoles, jueves, viernes, no encontrarte,
no respirar, no ser, no merecerte.
No verte.

Desesperadamente amar, amarte
y volver a nacer para quererte.
No verte.

Sí, nacer cada día. Todo es nuevo.
Nueva eres tú, mi vida, tú, mi muerte.
No verte.

Andar a tientas (y era mediodía)
con temor infinito de romperte.
No verte.

Oír tu voz, oler tu aroma, sueños,
ay, espejismos que el desierto invierte.
No verte.

Pensar que tú me huyes, me deseas,
querrías encontrarte en mí, perderte.
No verte.

Dos barcos en la mar, ciegas las velas.
¿Se besarán mañana sus estelas?

NÃO TE VEJO

Um dia e outro dia e outro dia.
Não te vejo

Poder te ver, saber que andas tão perto
que é provável o milagre da sorte.
Não te vejo

E o coração e o cálculo e a bússola
fracassando todos os três. Não há quem te acerte.
Não te vejo

Quarta, quinta, sexta, não te encontrando,
Não respirar, não ser, não merecer-te.
Não te vejo

Desesperadamente amor, amar-te
e nascer de novo para amar querer-te.
Não te vejo

Sim, nascer a cada dia. Tudo é novo.
Nova és tu, minha vida, tu, minha morte.
Não te vejo

Andar às tontas (e era meio-dia)
com infinito medo de te quebrar.
Não te vejo

Ouvir tua voz, sentir teu perfume, sonhos,
Oh! Miragens que o deserto inverte.
Não te vejo

Pensar que tu me foges, me desejas,
querias se encontrar em mim, se perder.
Não te vejo

Dois barcos no mar, cegas as velas.
Se beijarão amanhã suas estrelas?

Ilustração: Medium.

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