Monday, December 30, 2019

Turbulência no avião




Senti, quando entrei, que embarcar neste avião
era como entrar em velocidade na contramão.
E, ao olhar para a cabine do piloto,
reconheci, de pronto, o cara louco
que, ontem, bebia vodca como se fosse água.
Nem pensem que extravaso alguma mágoa.
Não. Devo reconhecer que devia ter descido,
mas, a vida, de qualquer modo, é um perigo,
de forma que fiquei e depositei minha confiança
na estatística, que me informa que uma queda
é mais difícil do que ganhar na loteria.
Agora, com este descalabro, este balançar,
como se fosse bola de pingue pongue,
sinto que errei, que não devia.
Talvez tenha sido o fato de que esta companhia,
além de cumprir horários, nunca perdeu uma nave,
esqueci que avião é pesado, não é ave,
e o passado nada informa sobre o futuro.
Na verdade, só nos resta rezar,
principalmente, vendo o medo, é duro,
que se vê no olhar da comissária,
depois de falar com o co-piloto.
Não é hora de procurar culpados.
Mortos não culpam ninguém
e também nenhuma culpa tem.
Vão passar anos investigando
e, depois, numa breve nota
dirão que foi erro humano
ou de manutenção.
Nada de chorar.
Encare as coisas com isenção:
pegamos o voo errado.
É muito azar!

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