OLVIDO
(Del poemario 'Chem No Rume'.
William Keith Sutherland)
No me llevó la muerte, no
pudo. Mi lengua hermafrodita, desencajado útero, llora su ira en cada verso,
grita una canción urgente desde un limbo trágico, vertiente en verso que corta
por peso bastiones todos, como una caricia desnuda al borde del abismo de una
palma nebular.
Ahora, recojo mi cuerpo
entristecido, como carbón milenario, profanando lo sagrado en la casa del orate
mayor con mi sangre eterna y consumida.
Mis pasos romperán aquel
paño que cubre al mundo. Llegaré como un extranjero, como amor que no exige
réplica, y mi frente será lápida, una vereda en llamas, y mi rostro, un sol
renegrido, absorbido al otro lado de los labios, y mis ojos, excavación para los
muertos.
Diez mil soles han
pasado, y el ancla llevo a cuesta como una cruz. Mi santuario de mármol
lumaquela reconoce tus voces en esta catacumba flotante del Estrecho, donde el
pómulo empinado hizo a sus hijos.
Qué difícil es decir lo
más evidente de esta tierra de espanto y desconsuelo.
Arde el vientre como
mierda fresca, como un panteón sumergido en un tiempo que nos olvida, en una
alegría que desenfundó sus sogas y erigió postes incólumes como árboles en esta
selva austral, sembrando flores de un cementerio lejano, violando el útero en
sus palacios, cortando la yugular del deseo amoroso y desposeído, asfixiando el
cordón umbilical de la carne y los sueños del pobre.
Doy paso firme hacia el
duelo suspendido por tu dios abyecto. Endilgo mis huestes de huesos ajenos, a
recorrer las calles frías y enmohecidas, calles de tierra que abrió la mano
cruda sintiendo la bóveda craneal de dios en la barriada, explosada en el corazón
palpitante de un parto atemporal, lluvia y designio perpetuo del existir caído,
sueño insomne en medio de imágenes cansadas y cuerpos atónitos, devorados por
el temor, como mirada de niño proletario, con su pupila sincera y pura, aquella
que sostiene más verdad que cien salmos y mil dioses.
Mi cuerpo arrastra tu
podredumbre, como un metal guacho y oxidado, perdido en la columna vertebral de
los bordes del austro.
El mundo quiso hacerme
mundo, y en ello me quitó el andar. Ahora mi desierto se extiende sobre tu
obscena y genocida aureola. Sembraste sordos de silencio, mudos de espanto e
impotencia, de desconexión y apatía, como palabra que sujeta una realidad en un
sueño ausente. Fuiste el martirio para el torturado, dejaste pena silente y
escarnio, clavaste el hacha en el deja vu de la vida.
Ahora, que camino como un
grito en medio de este silencio sepulcral, dejaré mi marca sobre el animal que
ríe, colmaré de liquidez seminal el arrebol de las alturas, y los trópicos
encenderé como embriaguez en un santuario, y abriré, la puerta oscura de esta
casa de putas, y en la soledad y abandono de la vesania de este potrero
circular, caminaré desnudo.
Tocaré tu puerta como un
sepulturero. Seré el eslabón perdido que une tu sangre a esta tierra sedienta.
Reconocí el cuerpo en la
arena, tendido como un cetáceo nocturno, anquilosado a la vertiente láctea
universal. Escuché mi voz de vida en la caverna de los dioses, y vi frente a
mí, las fauces de la muerte.
Soy el desaparecido, el
verbo que borraron, la palabra sin decir, más allá de todo palimpsesto. Soy
quien abrió el corazón como piernas al parir, con la mandíbula desencajada. Soy
quien suda partos cuando me olvidan, y sangre en su labor. Soy el hierro negro,
ardiente como bala. Soy quien muda las palabras recién nacidas, y soy, en
definitiva, quien encalla como un planeta en ti, como un beso que deja salir al
gemido más impronunciable, aquel que deambula tus noches.
En fin, soy quien dice al
mundo desde esta tierra sumergida: “no me abandones”.
ESQUECIMENTO
Não me levou a morte,
não. Minha língua hermafrodita, útero deslocado, grita sua raiva em cada verso,
grita uma canção urgente de um limbo trágico, um verso que corta todos os
bastiões com seu peso, como uma carícia nua à beira do abismo de uma palmeira
nebulosa.
Agora, recolho meu corpo
entristecido, como carvão antigo, profanando o sagrado na casa do maior louco
com meu sangue eterno e consumido.
Meus passos romperão esse
pano que cobre o mundo. Chegarei como um estranho, como um amor que não exige réplica,
e minha testa será uma lápide, uma calçada em chamas, e meu rosto, um sol
enegrecido, absorvido do outro lado dos meus lábios, e meus olhos, uma
escavação para os mortos.
Dez mil sóis se passaram,
e eu carrego a âncora nas costas como uma cruz. Meu santuário de mármore
lumaquela reconhece suas vozes nesta catacumba flutuante do Estreito, onde a
maçã do rosto íngreme fez seus filhos.
Como é difícil dizer o
mais evidente sobre esta terra de espanto e desconsolo.
A barriga arde como merda
fresca, como um panteão submerso num tempo que nos esquece, numa alegria que
desenrolou as suas cordas e ergueu postes tão ilesos como árvores nesta selva
austral, semeando flores de um cemitério distante, violando o útero nos seus
palácios, cortando a jugular do desejo amoroso e despossuído, sufocando o
cordão umbilical da carne e os sonhos dos pobres.
Dou um passo firme em
direção ao duelo suspenso pelo teu deus abjeto. Sobrecarrego minhas hostes de
ossos alheios para caminhar pelas ruas frias e mofadas, ruas de terra abertas
pela mão crua que sente a abóbada craniana de deus na vizinhança, explodida no
coração pulsante de um nascimento atemporal, chuva e desígnio perpétuo de
existência decaída, sonho sem dormir em meio a imagens cansadas e corpos
atônitos, devorado pelo medo, como o olhar de uma criança proletária, com sua
pupila sincera e pura, aquela que contém mais verdade do que cem salmos e mil
deuses.
Meu corpo arrasta tua
podridão, como um metal enferrujado e podre, perdido na espinha dorsal das
fronteiras do sul.
O mundo queria fazer de
mim um mundo e, ao fazer isto, tirou minha capacidade de andar. Agora meu
deserto se estende sobre seu halo obsceno e genocida. Semeaste surdez com
silêncio, mudez com terror e desamparo, com desconexão e apatia, como uma
palavra que contém uma realidade em um sonho ausente. Foste o martírio dos
torturados, deixaste tristeza e desprezo silenciosos, cravaste o machado no
déjà vu da vida.
Agora, enquanto caminho
como um grito no meio deste silêncio sepulcral, deixarei minha marca no animal que
ri, encherei o brilho das alturas com liquidez seminal, e os trópicos incendiarei
como a embriaguez em um santuário, e abrirei a porta escura deste bordel, e na
solidão e no abandono da loucura deste pasto circular, caminharei nu.
Tocarei na sua porta como
um coveiro. Serei o elo perdido que une teu sangue a esta terra sedenta.
Reconheci o corpo na
areia, estendido como um cetáceo noturno, ancorado na encosta leitosa
universal. Escutei minha voz de vida na caverna dos deuses e vi diante de mim
as faces da morte.
Sou o desaparecido, o
verbo que foi apagado, a palavra não dita, além de todo palimpsesto. Sou quem
abriu o coração como pernas ao parir, com meu maxilar desarticulado. Sou o que sua
nos partos se esquecem de mim, e sangue no seu labor. Sou o ferro negro, ardendo
como uma bala. Sou quem muda as palavras recém-nascidas, e sou eu, em definitivo,
quem encalha como um planeta em ti, como um beijo que deixa escapar o gemido
mais impronunciável, aquele que vagueia pelas tuas noites.
Enfim, sou quem diz ao
mundo desta terra submersa: “Não me abandone”.
Ilustração: Gifer.