BALBÚRDIA

 

Bem mais novo e vaidoso

tive o desejo de ser 

o destruidor das certezas, 

o farol das verdades ocultas, 

o paladino da beleza

e a régua da verdade. 

Hoje, vejo na realidade,

quando as coisas andam tão tortas, 

que o previsivelzinho

já se tornou improvável

e que o certo, o desejável,  

é ficar quieto, ter sombra e coco verde

para não brigar

com as línguas podres

e as mentes deturpadas

que andam pregando 

com alarde

que o certo é o errado.

Assim me tornei covarde,

até por não adiantar nada.

Por saber que pimenta arde,

desejar ordem no caos,

aprendi, com muito estudo, 

ser melhor ficar bem mudo,

que o amor não vence tudo, 

mas, dá um prazer danado 

e a capacidade inigualável 

de rir de uma balbúrdia,

que antes era palpável,

de um país cuja ruína

antes era inimaginável.

Ilustração: Balburdia.net.