Monday, February 08, 2016

NATA DE VIDA

Um cheiro bem claro de mulher.       
Um cheiro de corpo de mulher.
Um gosto, um cheiro, um gasto de mulher.
Um suor-perfume de mulher
E a pressa, sempre a pressa.
O mundo ali pequeno, ligeiro.
A língua.... o dorso nu....
As pernas, infindáveis pernas.
As mãos macias, o corpo doce.
O cheiro de mulher a se entranhar em mim,
Por mim, além de mim.
Sem fim, sem fim.
Rápido.
Um mundo gigantesco e diminuto,
em movimento, em movimento, parado.
E não consigo fixar o tempo, no tempo, o instante....
O que foi?
Quando foi?
Por que foi?
Nós dois, braços, pernas, cheiro, corpo, homem, mulher, sonho, ternura, canção, gosto, sacanagem, riso, lágrima e vapor.....
Cato a realidade numa fotografia.
No bar onde nos embriagamos,
Debaixo da jangada onde nos amamos,
sabendo que sonhei.
No entanto, o mar bate na praia,
As estrelas cintilam,
Meu coração bate acelerado,
Como no passado,
E não é mais a mesma coisa.
Confesso que não teria coragem de dizer que te amo,
quando te amo mais.
Há agora, entre nós, vários anos, mulheres, dois filhos,
um casamento oficial e diversos civis.
O gosto de tua carne que não é mais a mesma,
O gosto de teu corpo que o mesmo não é.
A minha maldade de homem,
A tua de mulher.
A conscientização,
Que, talvez, apenas sirva de impasse para a vida,
E tantos valores que aprendemos para viver pior.
Os sonhos...tantos sonhos desfeitos...
A violência que me pede um poema assim,
onde possa registrar que fui radical no amor,
Para que possam entender
o sufixo que sou
da palavra desnatada
em que transformaram a vida.

(De Apocalypse, Editora Per Se, 2013, 2ª Edição)


Ilustração: www.vivaconsalud.es

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