Monday, February 08, 2016

SEM CARNAVAL

São dez horas da manhã.
Há uma segunda de carnaval lá fora
Que me pede alegria
Como se fosse obrigatório ter ilusão,
E fingir satisfação.

Mas, na verdade, não estou nem aí para a folia.

Passei batido.
Se, ao menos, estivesse em Nazaré da Mata,
No Maracatu Àz de Paus ou em Porto das Dunas,
Vá lá em Olinda,
Ainda me teria inxerido,
Talvez, de pirata, de sujo ou papangu vestido.

Como na canção não sei o que aconteceu,
Sem nem uma flor cair do jarro,
Porém, fiquei aqui,
Largado no barro,
Sob este céu azul, num dia de sol claro,
envolvido pelo silêncio da Rua Paraguai
sem um grito, um canto, um aí.
Nada me atrai
Como só poderia fazer a voz e o corpo enluarado
De Karina Buhr,
Uma deusa selvagem do carnaval de Recife.

Como se fosse uma nau bati,
Não sei se numa pedra ou pedaço de pau.
Sobrevivi. Mas, flutuando, pareço estar,
Como algo prestes a afundar
Num tempo e num espaço que não é meu.

E o carnaval se perdeu....


Ilustração: f.i.uol.com.br

No comments: