Todo dia faço tudo sempre igual
Como se nada tivesse mudado
Como se estivesses do meu lado.
Fingindo que não houve nada
Tento me manter ocupada
O bastante para não ter de pensar
Sobre tua ausência, o meu mal,
E jamais, nunca mesmo, vou dizer
Que até fiquei cansada de chorar
Por não saber onde te procurar.
Ultimamente me pego cantando
Boleros, mambos, tangos, guarânias
Com falsetes operísticos de agonias
Como uma Callas de quinta categoria
Enquanto limpo a casa, a calçada,
Para o pensamento não criar asas,
Bebo taças de conhaque ou vinho
Me embriago com a sensação
De que o dia de tua volta adivinho
Quando nem sei se não morrestes
Ou, sem memória, já me esqueceu.
Sei que é um comportamento imoral
Todo dia fazer tudo sempre igual.
Ilustração: cheiodeluz.blogspot.com
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