Ò
Senhor, não nos bastavam os fantasmas do Teatro Municipal?
Não
nos seria suficiente os castigos da poluição, as buzinas intermitentes,
um
prefeito desastrado, os engarrafamentos, a falta de água ou seu excesso?
Sei
que não podemos parar o progresso;
que
vivemos numa época de movimentos implacáveis,
de
ventos e fogos que não perdoaram nem mesmo a Estação da Luz.
Mas,
será tão pesada nossa cruz
que
nem mesmo nos salva os pãezinhos gostosos dos monges de São Bento?
Não
serve para nos perdoar
Os
pastéis de bacalhau, os sanduíches de mortadela, as sopas, caldos, as pizzas
e
todo o delicioso aparato
que
os nossos cozinheiros colocam nos pratos,
os
museus, comuns ou estranhos,
o
encanto sem tamanho
que
Caetano e Tomzé colocaram em melodias
que
louvam os cruzamentos e multidões desajeitadas,
nem
as curvas do Copan
ou
andar a pé por Tatuapé
ou
temos uma predestinação tão danada
que
sempre nos dá uma pena maior do que esperamos?
Perdoai,
Senhor, os que negam seus triplexs,
ou
que nos roubam, de forma oficial ou não,
em
nome de toda a população,
ou,
pelo menos, em nome dos deserdados
dos
que vagam noiados nos locais
de
desespero e sonho de uma pauliceia
onde
o desvario tem beleza
ainda
que, guardados dos criminosos,
estejamos
encaixotados como amebas
em
minúsculos compartimentos de apartamentos e casas,
que,
como os prédios públicos,
possuem
o estilo inodoro dos ferros e vidros frios,
de
construções que pecam pelo vazio,
que,
no entanto, refletem a beleza do sol e da lua.
Sabemos
sim do crime do concreto armado
que
levou nossas várzeas para a memória,
mas,
Senhor, há um monte de igrejas
que,
ainda, guardam tuas glórias
e
uma gente humilde, pobre e honrada
que
conserva a fé no Teu nome
e
que trabalha com um desespero
que
somente se explica pela necessidade de sobrevivência
e
crê, crê muito em Ti,
quando
até parece que pecas pela ausência.
Ò
Senhor, que sabemos nós de teus desígnios?
Quem,
como nós, criadores de caos, podemos julgar Tuas ações?
Nos
perdoa, antes mesmo de rogarmos, pela clemência
que
esperamos.
Porém,
Senhor, há de nos perdoar pela ousadia,
de
dizer que tudo tem limite,
mas,
se nos permite,
queremos
dizer que já é demais
tamanha
punição.
Baratas
pela Cardeal Arcoverde, Teodoro Sampaio, catacumbas não!
Livrai-nos,
Senhor, das baratas do Cemitério de São Paulo.
Que,
pelo menos, nos poupe do impotente asco
desses
repugnantes insetos incomodar os mortos e os vivos
nos
seus passeios noturnos e matinais.
Não
te pedimos mais!
Só
que salve o cemitério de São Paulo
das
pragas das baratas-
isto,
para nós, será uma coisa muito cara,
se,
além de todos os males,
não
tivermos que suportar as Balattarias
desfilarem impávidas
como
se já tivessem tomado conta de avenidas e ruas
de
nossa incomensurável metrópole.
Que, se somente elas, irão sobreviver à bomba atômica
que,
ao menos, não tomem logo conta
de
nossa amada São Paulo.
Ilustração:
www.alugueldevansbhmg.com.br
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