Friday, August 04, 2017

De volta Miyó Vestrini

EL DOLOR                                          
Miyó Vestrini 

Doblé con cuidado sus camisas
y vacié la gaveta de la mesa de noche.
Dada la magnitud de mi dolor,
leí a Marguerite Duras,
hostil y dulzona ella,
tejiendo un chal para su amado.
Al quinto día
abrí las cortinas.
La luz cayó sobre el cubrecamas manchado de grasa,
el piso lleno de desechos,
el marco de la puerta descascarado.
Tanto dolor,
por cosas tan feas.
Miré una vez más su cara de ratón
y tiré todo por el bajante de la basura.
La vecina,
alarmada por semejante volumen de basura,
me preguntó si me sentía bien.
Duele, le dije.
En mi buzón colocaron un anónimo:
el que tenga un amor
que lo cuide
que lo cuide
y que no ensucie el bajante de basura de la comunidad”.

A DOR

Dobrei com cuidado suas camisas
e esvaziei a gaveta da mesa de noite.
Dada a magnitude da minha dor,
li Marguerite Duras,
hostil e adociçada ela,
tricotando um xale para seu amado.
No quinto dia
abri as cortinas.
A luz caiu sobre as colchas de cama manchadas de graxa,
o piso cheio de resíduos,
o batente da porta descascado.
Tanta dor,
por coisas tão feias.
Olhei uma vez mais o seu rosto de rato
e joguei tudo pelo tubo de lixo para distante.
A vizinha,
alarmado com o volume do lixo,
me perguntou se me sentia bem .
Dói, eu disse.
Na caixa postal colocaram um bilhete anônimo:
"Quem tem um amor
que o cuide
que o cuide
e não mexa com o cano de lixo da comunidade ".


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