Friday, March 22, 2013

E, de novo, ainda Tellier






Cuando todos se vayan

Jorge Tellier

Cuando todos se vayan a otros planetas
yo quedaré en la ciudad abandonada
bebiendo un último vaso de cerveza,
y luego volveré al pueblo donde siempre regreso
como el borracho a la taberna
y el niño a cabalgar
en el balancín roto.
Y en el pueblo no tendré nada que hacer,
sino echarme luciérnagas a los bolsillos
o caminar a orillas de rieles oxidados
o sentarme en el roído mostrador de un almacén
para hablar con antiguos compañeros de escuela.
Como una araña que recorre
los mismos hilos de su red
caminaré sin prisa por las calles
invadidas de malezas
mirando los palomares
que se vienen abajo,
hasta llegar a mi casa
donde me encerraré a escuchar
discos de un cantante de 1930
sin cuidarme jamás de mirar
los caminos infinitos
trazados por los cohetes en el espacio.

Quando todos se vão

Quando todos se vão para outros planetas
eu ficarei na cidade abandonada
bebendo um último copo de cerveja
e logo voltarei à  cidade onde sempre regresso
como o bêbado à taverna
e o menino a balançar
na cadeira de balanço quebrada.
E as pessoas não terão nada o que fazer,
senão encher-me de pirilampos os bolsos
ou caminhar nas margens dos trilhos enferrujados
ou sentar-me no balcão gasto de uma loja
para falar com antigos companheiros de escola.
Como a aranha que percorre
os mesmos fios de sua rede
caminharei sem pressa pelas ruas
invadidas por ervas daninhas
observando os pombais
que vem abaixo,
até chegar a minha casa
onde me trancarei para escutar
álbuns de uma cantora de 1930
sem cuidar jamais de olhar
os caminhos infinitos
definidos pelos foguetes no espaço.

Ilustração:  cinema.uol.com.br

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