MAR DE ARGÓNIDA
Aurora Luque
“No estuve
nunca allí, dijiste,
nunca
regresaré de aquella Atlántida”.
O estuve
desde siempre. Navegarte más tarde
fue la
duplicación de una existencia
jubilosa y
absorta, previvida,
no sé qué
transfusión
de salmo,
sueño, sangre de aventura,
de olores
subsumidos, deseos encriptados
en no sé qué
vehículos del cuerpo.
Los mitos
nos enseñan, Medusa, a habitar mares.
Tengo una
casa, pero tengo los mares
cuando amo
los mitos.
El cieno
murmurante bajo el cauce, armazones de redes
clandestinas,
diálogos de aves
puras e
incandescentes, las arenas absueltas,
libres de
orografías y echadas a volar,
a nadar
onduladas como carne de ninfas.
Oh, sí, qué
vivas siguen
las diosas
de las aguas. Todas las extensiones del misterio
las prodigan
los vientos oceánicos
o esa cuna
de sombras y abismo que se mece
en cada ola
cobalto de la tarde.
Las fábulas
fascinan porque eligen un barco,
zarpan de
puertos viejos, merodean marismas,
escuchan
gritos hondos, roban música al mar.
Los limbos
de los monstruos,
las cabezas
de múltiples Orfeos,
la memoria
errabunda de los náufragos,
las
criaturas azules nunca vistas,
la locura
del hombre mitad isla perdida:
fruta
extraña del mar, droga insondable.
-Medusa, qué
corales nacieron de la sangre
de tu pelo
reptil, de la cólera roja de saberte
moribunda y
vencida. Medusa, es hora ya
de anular tu
mirada de piedra, tus serpientes.
Desencriptar
la fábula que hundieron en el fondo,
robar
contigo música del mar.
Y aquí,
después del canto,
que la mar
nos archive en su destino.
MAR DE ARGONIDA
"Nunca
estive ali, dissestes,
Nunca
regressarei daquela Atlântida”.
Ou estive
desde sempre. Naveguei mais tarde
foi a
duplicação de uma existência
jubilosa e
absorta, previvida,
não sei que
transfusão
de salmo,
sonho, sangue de aventura,
de odores
subsumidos, desejos cifrados
em não sei
que veículos do corpo.
Os mitos nos
ensinam, Medusa, a habitar os mares.
Tenho uma
casa, porém tenho os mares
quando amo
os mitos
A lama
murmurante sob o leito do rio, armações de rede
clandestinas,
diálogos de aves
puras e
incandescentes, as areias absolvidas,
livre de
orografias e lançado para voar,
nadar
ondulado como a carne das ninfas.
Oh! Sim, que
vivas
seguem as
deusas das águas Todas as extensões do mistério
são banhadas
pelos ventos do oceano
ou aquele
berço de sombras e abismo que balança
em cada onda
de cobalto da tarde.
As fábulas
fascinam porque elegem um navio,
Zarparam de
velhos portos, rondam pântanos,
ouvem gritos
profundos, roubam música do mar.
Os limbos
dos monstros,
as cabeças
de múltiplos Orfeus,
a memória
errante dos náufragos,
as criaturas
azuis nunca vistas,
a loucura do
homem meia ilha perdida:
estranho
fruto do mar, droga insondável.
-Medusa, que
corais nasceram do sangue
de teu
cabelo reptiliano, da raiva vermelha de saber-te
moribunda e vencida.
Medusa é hora já
de anular teu
olhar de pedra, tuas serpentes.
Descriptografar
a fábula que afundaram,
roubar contigo
a música do mar.
E aqui,
depois do canto,
Que o mar
nos arquive no seu destino.
Ilustração: Cultura Animi.
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