Saturday, February 18, 2023

E, novamente, Aurora Luque

 


MAR DE ARGÓNIDA

Aurora Luque

 

“No estuve nunca allí, dijiste,

nunca regresaré de aquella Atlántida”.

O estuve desde siempre. Navegarte más tarde

fue la duplicación de una existencia

jubilosa y absorta, previvida,

no sé qué transfusión

de salmo, sueño, sangre de aventura,

de olores subsumidos, deseos encriptados

en no sé qué vehículos del cuerpo.

Los mitos nos enseñan, Medusa, a habitar mares.

Tengo una casa, pero tengo los mares

cuando amo los mitos.

El cieno murmurante bajo el cauce, armazones de redes

clandestinas, diálogos de aves

puras e incandescentes, las arenas absueltas,

libres de orografías y echadas a volar,

a nadar onduladas como carne de ninfas.

Oh, sí, qué vivas siguen

las diosas de las aguas. Todas las extensiones del misterio

las prodigan los vientos oceánicos

o esa cuna de sombras y abismo que se mece

en cada ola cobalto de la tarde.

Las fábulas fascinan porque eligen un barco,

zarpan de puertos viejos, merodean marismas,

escuchan gritos hondos, roban música al mar.

Los limbos de los monstruos,

las cabezas de múltiples Orfeos,

la memoria errabunda de los náufragos,

las criaturas azules nunca vistas,

la locura del hombre mitad isla perdida:

fruta extraña del mar, droga insondable.

 

-Medusa, qué corales nacieron de la sangre

de tu pelo reptil, de la cólera roja de saberte

moribunda y vencida. Medusa, es hora ya

de anular tu mirada de piedra, tus serpientes.

Desencriptar la fábula que hundieron en el fondo,

robar contigo música del mar.

Y aquí, después del canto,

que la mar nos archive en su destino.

MAR DE ARGONIDA

"Nunca estive ali, dissestes,

Nunca regressarei daquela Atlântida”.

Ou estive desde sempre. Naveguei mais tarde

foi a duplicação de uma existência

jubilosa e absorta, previvida,

não sei que transfusão

de salmo, sonho, sangue de aventura,

de odores subsumidos, desejos cifrados

em não sei que veículos do corpo.

Os mitos nos ensinam, Medusa, a habitar os mares.

Tenho uma casa, porém tenho os mares

quando amo os mitos

A lama murmurante sob o leito do rio, armações de rede

clandestinas, diálogos de aves

puras e incandescentes, as areias absolvidas,

livre de orografias e lançado para voar,

nadar ondulado como a carne das ninfas.

Oh! Sim, que vivas

seguem as deusas das águas Todas as extensões do mistério

são banhadas pelos ventos do oceano

ou aquele berço de sombras e abismo que balança

em cada onda de cobalto da tarde.

As fábulas fascinam porque elegem um navio,

Zarparam de velhos portos, rondam pântanos,

ouvem gritos profundos, roubam música do mar.

Os limbos dos monstros,

as cabeças de múltiplos Orfeus,

a memória errante dos náufragos,

as criaturas azuis nunca vistas,

a loucura do homem meia ilha perdida:

estranho fruto do mar, droga insondável.

 

-Medusa, que corais nasceram do sangue

de teu cabelo reptiliano, da raiva vermelha de saber-te

moribunda e vencida. Medusa é hora já

de anular teu olhar de pedra, tuas serpentes.

Descriptografar a fábula que afundaram,

roubar contigo a música do mar.

E aqui, depois do canto,

Que o mar nos arquive no seu destino.

Ilustração: Cultura Animi.

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